A ardência nos olhos é uma queixa comum e incômoda, frequentemente descrita como sensação de queimação ou picada nos olhos. Ela pode vir sozinha ou acompanhada por vermelhidão, lacrimejamento ou secreção. Embora raramente seja um sinal imediato de gravidade, esse sintoma pode comprometer a qualidade de vida e o conforto diário. Entender as causas por trás da ardência é fundamental para um alívio eficaz, porém, a automedicação envolve riscos. Neste artigo, você encontrará as origens mais frequentes da ardência ocular, orientações seguras para alívio e a importância de buscar atendimento especializado quando necessário.
A superfície ocular é uma estrutura muito delicada que depende de um filme lacrimal estável e de uma anatomia preservada para funcionar corretamente. Qualquer fator que desequilibre esse sistema pode desencadear a ardência ocular, e identificá-lo é a chave para o tratamento adequado.
Principais causas da ardência ocular
As causas da ardência ocular são diversas e podem ser agrupadas em dois grandes grupos: fatores externos/ambientais e patologias oculares.
Fatores externos e ambientais
Síndrome do olho seco
Uma das causas mais frequentes de ardência ocular é a síndrome do olho seco. Nesse caso, ocorre deficiência na quantidade ou qualidade da lágrima, levando ao atrito entre córnea e conjuntiva o que gera sensação de queimação, areia nos olhos e visão instável. Idade avançada, uso contínuo de telas, clima seco e uso de medicamentos como anti-histamínicos são fatores que favorecem o olho seco. A etiologia multifatorial e o impacto na superfície ocular são bem descritos na literatura oftalmológica.
Alergias oculares (conjuntivite alérgica)
Pólen, poeira, ácaros e pelos de animais são alérgenos comuns que desencadeiam reação inflamatória na conjuntiva. A liberação de histamina provoca coceira, vermelhidão e ardência.
Exposição a agentes irritantes
Fumaça (incluindo do cigarro), poluição, vapores de produtos químicos (limpeza, cloro de piscina), vento intenso, tudo isso pode irritar a superfície ocular e causar ardência.
Fadiga visual digital
O uso prolongado de dispositivos digitais leva à diminuição da frequência de piscadas. Isso favorece a evaporação do filme lacrimal, resultando em ardor, visão turva e até cefaleia.
Doenças oculares associadas
Blefarite e disfunção das glândulas de Meibômio
A blefarite é uma inflamação das margens palpebrais, geralmente relacionada à obstrução das glândulas de Meibômio, responsáveis pela camada lipídica da lágrima. Quando essa camada está prejudicada, a lágrima se evapora mais facilmente, gerando ardência.
Conjuntivite infecciosa
Infecções virais ou bacterianas da conjuntiva levam a vermelhidão, secreção (aquosa ou purulenta) e sensação de queimação.
Corpo estranho
A presença de partículas como cílios, poeira ou areia sob a pálpebra causa ardência aguda até que sejam removidas ou lavadas.
Síndrome de Sjögren
Doença autoimune que ataca as glândulas exócrinas, incluindo as lacrimais, causando redução da produção de lágrimas e inflamação crônica da superfície ocular. Isso torna a córnea e a conjuntiva mais sensíveis e vulneráveis.
“O diagnóstico diferencial da ardência ocular é amplo. O olho seco é o grande mimetizador, mas é fundamental descartar condições mais graves, como ceratites ou uveíte, que podem se apresentar com sintomas similares. A anamnese detalhada e o exame com lâmpada de fenda são indispensáveis.”
— Sociedade Brasileira de Oftalmologia
Manejo seguro e medidas de alívio
Embora o diagnóstico precise ser feito por um oftalmologista, algumas condutas podem trazer conforto imediato.
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Lágrimas artificiais sem conservantes: são a primeira linha para casos de olho seco e fadiga visual, ajudando a repor o filme lacrimal e proteger a superfície ocular.
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Compressas frias nas pálpebras: úteis quando a ardência está associada a alergias ou irritações, o frio causa vasoconstrição, aliviando vermelhidão e edema.
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Regra 20-20-20 ao usar telas: a cada 20 minutos, olhe para algo a ≈ 6 metros por 20 segundos. Isso estimula o piscar completo e reduz a fadiga ocular.
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Lavagem com soro fisiológico estéril 0,9%: útil após exposição leve a irritantes como poeira ou cloro, para diluir e remover o agente causador da ardência.
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Higiene palpebral diária: especialmente para quem tem blefarite, limpar suavemente as bordas das pálpebras com soluções apropriadas ou xampu infantil neutro ajuda a controlar inflamação e melhorar a lágrima.
A importância de avaliação oftalmológica
Essas medidas de alívio são temporárias. Somente o oftalmologista poderá:
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Realizar o diagnóstico diferencial completo. Sintomas de ardência ocular podem englobar desde condições benignas até situações graves como ceratites ou uveítes. O exame com lâmpada de fenda permite avaliar a córnea, conjuntiva, qualidade do filme lacrimal e detectar sinais de doenças que exigem tratamento imediato.
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Prescrever tratamento específico conforme a causa. Para alergias intensas, colírios antialérgicos ou estabilizadores de mastócitos são mais eficazes. Em casos de blefarite, pode haver necessidade de antibióticos tópicos ou orais. Para olho seco grave, pode-se recorrer à oclusão dos pontos lacrimais ou uso de imunomoduladores.
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Alertar sobre os riscos da automedicação com vasoconstritores: seu uso prolongado pode provocar efeito rebote, piorando a vermelhidão e ardência, além de mascarar doenças mais sérias.
Quando buscar atendimento urgente
Embora a ardência nos olhos geralmente não configure emergência, é fundamental procurar atendimento imediato se surgirem sinais como:
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Dor ocular moderada a intensa
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Fotofobia (sensibilidade extrema à luz)
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Secreção purulenta abundante
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Visão turva ou perda súbita da visão
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Trauma ocular recente
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Sensação persistente de corpo estranho que não melhora com lavagem
Esses sinais podem indicar infecções graves, abrasões corneanas ou inflamações intraoculares que exigem intervenção rápida.
Estratégias de prevenção contra ardência ocular
Prevenir é sempre melhor que remediar. Algumas mudanças simples podem reduzir muito o desconforto:
No ambiente
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Use umidificadores em ambientes com ar-condicionado ou aquecimento
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Evite correntes de ar direto ou ventiladores
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Mantenha-se longe de fumaça ou poeira intensa
No comportamento
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Utilize óculos de proteção ao trabalhar com produtos químicos ou em ambientes com partículas
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Adote uma dieta rica em ômega-3 (presente em peixes como sardinha e salmão), que pode melhorar a qualidade da lágrima
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Hidrate-se bem ao longo do dia, pois a hidratação corporal influencia a produção lacrimal
Principais causas e condutas recomendadas
Causa provável | Sintomas comuns | Medidas de alívio inicial seguras |
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Olho seco / fadiga visual | Sensação de areia, piora ao longo do dia | Lágrimas artificiais sem conservantes; pausas com 20-20-20 |
Conjuntivite alérgica | Coceira, lacrimejamento, edema palpebral | Compressas frias; evitar coçar; antialérgicos com orientação médica |
Blefarite | Pálpebras inchadas, caspas nos cílios | Higiene palpebral diária; compressas mornas |
Irritação por agentes químicos | Ardência súbita após exposição | Lavagem ocular com soro fisiológico ou água corrente |
Quando a ardência ocular pode indicar algo mais sério
A ardência ocular pode parecer inofensiva, mas quando persistente, recorrente ou acompanhada dos sinais de alerta mencionados, ela pode ser o indício de doenças oculares que exigem atenção especializada. Portanto, observar os sintomas, adotar medidas de alívio seguras e buscar avaliação oftalmológica adequada são passos fundamentais para proteger a saúde visual em longo prazo.