Última atualização em 10 de fevereiro de 2024 por
Uma das grandes conquistas da oftalmologia, a biometria ocular vem sendo fundamental para o reestabelecimento visual de pacientes submetidos à facectomia. Por ser um exame que permite calcular variáveis que influenciam diretamente no grau final do paciente após o implante de lente intraocular (LIO), a biometria é imprescindível para boa prática clínica e cirúrgica da oftalmologia.
Sendo assim, é necessário analisar e conhecer a respeito da biometria através dos seguintes pontos de vista: a história do implante da lente intraocular, a evolução das fórmulas usadas nos cálculos biométricos, a tecnologia envolvida para aferir as medidas e a importância social desse exame no Brasil e no mundo.
Como surgiu a biometria ocular?
Nos primórdios da facectomia, a técnica cirúrgica era realizada apenas retirando o cristalino, deixando os pacientes afácicos e, posteriormente, corrigia-se o grau final com óculos. O primeiro implante de lente intraocular se deu em 1949 pelo Sir Harold Ridley, a partir da observação de soldados combatentes na segunda guerra mundial com corpos estranhos intraoculares inertes, que mesmo após anos, não causavam inflamação intraocular significativa.
A partir disso, Harold desenvolveu uma lente de material chamado perpex imitando as medidas de curvatura de um cristalino humano e o implantou em um olho cego. Para sua surpresa, o paciente apresentou uma dioptria final de –20 D, percebendo, portanto, que se tratava de um erro de cálculo por não levar em consideração o índice de refração do material utilizado.
A partir daí, uma série de estudos foram sendo desenvolvidos com consequente aprimoramento da confecção das LIOs, até que em 1981 a LIO teve aprovação na Food and Drugs Administration (FDA) e seu implante passou a ser amplamente utilizado na prática da facectomia.
Diante dessa nova etapa, fórmulas foram sendo desenvolvidas para determinar qual seria a LIO mais adequada para os pacientes. Iniciou-se, portanto, a busca pela emetropia. As primeiras fórmulas desenvolvidas, na década de 70, foram chamadas de fórmulas de vergência ou teóricas ou de 1ª geração, pois entendiam o olho como um sistema óptico de lentes e utilizavam princípios ópticos gaussianos, sendo a principal representante a fórmula de Binkhorst I (1979).
Dessa forma, seria necessário saber o poder da lente corneana (a ceratometria/K), o tamanho axial do olho (AXL) e, devido a impossibilidade de um cálculo fiel da posição da lente intraocular no olho (ELP), utilizava-se um valor fixo de 4 mm, sendo este o seu principal problema, uma vez que o ELP também é variado de acordo com características do olho.
Com os avanços de estudos e novas tecnologias, surgem as fórmulas de regressão ou de 2ª geração, como por exemplo a SRK I, que deriva dos resultados da análise da refração pós operatória em função da LIO implantada, do K e do AXL, criando-se a constante (A) de cada lente.
Para que não fosse necessário o acompanhamento e a análise de um grande número de pacientes submetidos à facectomia, surgem as formulas de 3ª geração, sendo as principais representantes a SRK/T, Holladay I e Hoffer Q, e o novo conceito introduzido é que o ELP é uma variável influenciada principalmente pelo AXL, ou seja, quanto maior o AXL, maior o comprimento de câmara anterior (ACD) e, portanto, maior o ELP pós-operatório.
Seguindo as evoluções, devido ao significativo número de exceções à regra, isto é, olhos que não respeitam a proporção entre AXL e ACD, desenvolveu-se as fórmulas de 4ª geração, como por exemplo a Haigis e a Holladay II, que incluiram novos dados e informações para o cálculo de ELP, como ACD pré-operatório, idade, refração pré-operatória, espessura da LIO (LT), distância limbo a limbo (WTW), espessura corneana (CCT), entre outras.
Conheça as fórmulas modernas
Por fim, existem as fórmulas de vergência moderna, representadas pela Barret e Universal II, que aplicam os mesmos conceitos das fórmulas de 4ª geração, porém levam em consideração a geometria da lente utilizada a fim de refinar ainda mais o plano principal da LIO.
A tecnologia passou a ser um grande aliado do cirurgião de catarata, uma vez que as variáveis envolvidas nas fórmulas passaram a ser facilmente aferidas. Os aparelhos atuais se dividem em biometria ultrassônica e óptica. Biômetros de ultrassom utilizam a onda sonora para medida de AXL, através da captação das ondas refletivas por um probe e estabelecendo uma relação entre o tempo de reflexão e captação com o tamanho do olho.
A medida pode ser feita por contato direto do probe com o olho – o que pode gerar erros de aferição por aplanação excessiva da córnea –, ou através da sua imersão em um recipiente com líquido que se acomoda sobre a córnea e preserva sua anatomia. Por muito tempo a biometria ultrassônica por imersão foi o padrão-ouro do cálculo, sendo substituída à medida que se desenvolveu a biometria óptica.
Saiba mais sobre os biômetros ópticos
Por sua vez, os biômetros ópticos utilizam a luz e suas diferentes formas de captação para aferição das medidas, dessa forma, é necessário que haja algum grau de transparência dos meios oculares para sua utilização, sendo este o seu principal fator limitante. Entretanto, apresentam melhor resolução e melhor reprodutibilidade das medidas, além de serem capazes de aferir outras variáveis como ACD, LT, CCT, WTW, entre outras.
O aumento da expectativa de vida como consequência do avanço da medicina e da mudança de hábitos da população traz consigo também o aumento da incidência de afecções relacionadas diretamente à senescência, sendo a catarata uma grande representante cujo tratamento se dá pela facectomia e implante de LIO.
A biometria ocular tornou-se fundamental para melhorar a qualidade de vida da sociedade, uma vez que possibilita a escolha da melhor dioptria da LIO de forma individualizada, sendo responsável por refinar o resultado pós-operatório da facectomia. Sendo assim, conclui-se que o exame biométrico constitui peça fundamental para proporcionar qualidade visual e reestabelecer funcionalidade aos indivíduo.