O que é a córnea sintética KPro
Quando a córnea perde transparência devido a cicatrizes ou doenças da superfície ocular, o transplante de córnea com tecido doado é geralmente a primeira escolha. Apesar de sua eficácia em muitos casos, existem situações em que ele falha ou não é recomendado. Nesses cenários, a ceratoprótese, também chamada de córnea sintética ou KPro, pode ser discutida com o paciente. Trata-se de um dispositivo óptico biocompatível que substitui a córnea doente e restaura a passagem de luz até a retina. Para agendar uma avaliação com especialista, acesse o Agendaoftalmo.
Como a KPro se diferencia do transplante de córnea
A KPro não é uma córnea de plástico simples. Ela consiste em um sistema óptico geralmente feito de PMMA (um plástico biocompatível), com variações no design e na fixação, integrando-se mecanicamente ao tecido do paciente. Diferentemente do transplante, que depende da integração biológica entre enxerto doado e receptor, a KPro funciona como uma lente permanente. Essa característica a torna ideal para olhos com alto risco de rejeição ou com superfície ocular gravemente comprometida.
Quando considerar a ceratoprótese
A KPro é indicada quando a opacidade corneana causa baixa visão significativa e o transplante com doador apresenta baixo risco de sucesso. Isso inclui:
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Falhas repetidas de enxertos corneanos
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Cicatrizes extensas após infecções
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Queimaduras químicas severas
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Ceratopatia bolhosa dolorosa refratária
Em doenças autoimunes graves, como a síndrome de Stevens-Johnson e o penfigoide ocular cicatricial, a indicação é ainda mais criteriosa, pois a superfície ocular hostil aumenta o risco de complicações.
Avanços recentes em design e acompanhamento
O Boston KPro tipo I, o modelo mais utilizado atualmente, passou por aprimoramentos no design que reduziram inflamação e extrusão. O cuidado pós-operatório evoluiu, incluindo:
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Uso contínuo de lente de contato terapêutica
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Profilaxia antibiótica de longo prazo
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Monitoramento rigoroso da pressão intraocular e retina
Para casos de superfície extremamente hostil, a variante tipo II e abordagens especializadas, como a osteo-odonto-queratoprótese, podem ser consideradas em centros especializados.
Indicações atuais na prática clínica
A KPro é recomendada quando a combinação de opacidade corneana e risco biológico reduz a probabilidade de sucesso de um enxerto doado. Isso ocorre principalmente em:
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Falências repetidas de transplante
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Cicatrizes infecciosas densas
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Queimaduras químicas severas
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Quadros dolorosos refratários
Pacientes com olho seco cicatricial e inflamação crônica requerem avaliação detalhada do momento cirúrgico e preparo da superfície ocular.
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Limitações e riscos
Apesar dos avanços, os riscos permanecem:
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Glaucoma silencioso
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Infecções graves, incluindo endoftalmite
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Melt do tecido periférico
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Descolamento de retina
O paciente deve comprometer-se com manutenção contínua, incluindo troca de lentes terapêuticas, uso diário de antibiótico profilático e consultas regulares.
Prognóstico e fatores que influenciam o resultado
Em centros experientes, a recuperação funcional no médio prazo é consistente, especialmente com o Boston KPro tipo I. O resultado depende do estado do segmento posterior e do controle da pressão intraocular. Pacientes com retina e nervo óptico preservados podem retomar atividades visuais do dia a dia, enquanto olhos com dano posterior extenso apresentam ganhos mais limitados.
Critérios de seleção e quem não deve receber KPro
Não são todos os pacientes que podem receber a ceratoprótese. Contraindicações incluem:
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Inflamação ativa sem controle
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Impossibilidade de seguimento próximo
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Baixa adesão ao tratamento contínuo
Pacientes que falharam em múltiplos transplantes ou possuem superfície ocular cicatricial severa podem se beneficiar quando a indicação é criteriosa e o preparo pré-operatório é adequado.
Próximos passos
A córnea sintética amplia opções terapêuticas em olhos de alto risco, mas não substitui o transplante em casos de baixo risco. Se a KPro foi indicada, uma avaliação detalhada com especialista em córnea é fundamental para definir cuidados e acompanhamento a longo prazo. Agende sua consulta pelo Agendaoftalmo e tire todas as dúvidas sobre essa opção cirúrgica.
Referências externas com links:
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Conselho Brasileiro de Oftalmologia – Série CBO: Córnea e Doenças Externas
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Aldave AJ, Sangwan VS, Basu S – International results with the Boston type I keratoprosthesis
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Harissi Dagher M, Dohlman CH – The Boston keratoprosthesis in severe ocular trauma
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Javadi MA et al – Boston type I keratoprosthesis, outcomes in the Middle East
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Lee R et al – Long term outcomes of the Boston keratoprosthesis type I