Tenho alta miopia: estou correndo algum risco?

Última atualização em 18 de outubro de 2024 por Victor

A alta miopia é uma condição ocular grave que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Caracterizada por um grau de miopia superior a -6,00 dioptrias, esta condição não só compromete significativamente a qualidade de vida dos indivíduos afetados, mas também aumenta o risco de complicações oculares potencialmente sérias.

Neste artigo, exploraremos em profundidade o que é a alta miopia, suas causas, os sintomas a serem observados e os riscos associados a esta condição. Além disso, discutiremos as opções de tratamento disponíveis e a importância do acompanhamento oftalmológico regular para pessoas com alta miopia.

O que é alta miopia?

A alta miopia é definida como um erro refrativo severo, onde o grau de miopia excede -6,00 dioptrias. Nesta condição, o globo ocular é significativamente mais alongado do que o normal, fazendo com que a luz seja focada bem à frente da retina, resultando em uma visão extremamente embaçada para objetos distantes sem correção.

Além do alto grau de erro refrativo, a alta miopia é frequentemente associada a mudanças estruturais no olho. Isso pode incluir um afinamento excessivo da retina, alterações na coroide (camada vascular do olho) e formação de estafilomas (protrusões na parte posterior do olho). 

Essas alterações aumentam o risco de várias complicações oculares, tornando a alta miopia uma preocupação significativa para a saúde ocular a longo prazo.

Diferenças entre miopia e alta miopia

Embora a miopia e a alta miopia compartilhem o mesmo mecanismo básico de erro refrativo, existem diferenças significativas em termos de severidade, riscos associados e abordagem de tratamento.

Causas da alta miopia

A alta miopia é uma condição complexa que resulta da interação entre fatores genéticos e ambientais. Enquanto a predisposição genética desempenha um papel significativo, evidências crescentes sugerem que fatores ambientais e de estilo de vida também contribuem para o desenvolvimento e progressão da alta miopia.

Fatores genéticos

A hereditariedade é um fator crucial no desenvolvimento da alta miopia. Estudos mostram que crianças com pais altamente míopes têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolver a condição. Alguns genes específicos têm sido associados à alta miopia, incluindo:

• Gene PAX6
• Gene COL2A1
• Gene MYP1
• Gene MYP2
• Gene MYOC

Fatores ambientais

Além da genética, vários fatores ambientais e de estilo de vida têm sido implicados no desenvolvimento e progressão da alta miopia. Estes incluem:

• Tempo excessivo gasto em atividades de visão próxima
• Uso prolongado de dispositivos eletrônicos
• Falta de exposição à luz solar e atividades ao ar livre
• Dieta pobre em nutrientes essenciais para a saúde ocular
• Estresse visual prolongado

Sintomas da alta miopia

Os sintomas da alta miopia são semelhantes aos da miopia regular, mas geralmente mais intensos. As pessoas com alta miopia experimentam uma visão extremamente embaçada para objetos distantes sem correção, e podem ter dificuldade até mesmo com objetos a curta distância em casos muito severos.

Sinais de alerta

É importante estar atento aos seguintes sinais que podem indicar alta miopia ou sua progressão:

• Dificuldade extrema em ver objetos distantes
• Necessidade frequente de atualizar a prescrição dos óculos
• Visão distorcida ou ondulada
• Dificuldade em ver no escuro ou com pouca luz
• Fadiga ocular intensa após atividades visuais
• Dores de cabeça frequentes

Quando procurar um oftalmologista

Pessoas com alta miopia devem ter acompanhamento oftalmológico regular. No entanto, é crucial buscar atendimento imediato se observar:

• Flashes de luz repentinos
• Aumento súbito de “moscas volantes” no campo visual
• Sombras ou cortinas no campo visual
• Perda repentina de visão em qualquer área do campo visual
• Dor ocular intensa ou repentina
• Mudanças rápidas na acuidade visual

Riscos e complicações

A alta miopia não é apenas um problema de visão, mas também um fator de risco para várias complicações oculares sérias. O alongamento excessivo do globo ocular e as alterações estruturais associadas à alta miopia podem levar a condições que ameaçam a visão se não forem detectadas e tratadas precocemente.

Descolamento de retina

O descolamento de retina é uma das complicações mais graves associadas à alta miopia. Ocorre quando a retina se separa da camada subjacente de tecido, interrompendo o suprimento de sangue e nutrientes. Isso pode levar à perda permanente da visão se não for tratado rapidamente.

Pessoas com alta miopia têm um risco significativamente maior de descolamento de retina devido ao alongamento excessivo do olho, que pode esticar e enfraquecer a retina. Sintomas como flashes de luz, aumento súbito de “moscas volantes” ou uma “cortina” no campo visual são sinais de alerta que requerem atenção médica imediata.

Degeneração macular

A degeneração macular miópica é uma complicação específica da alta miopia que afeta a mácula, a parte central da retina responsável pela visão detalhada e colorida. Esta condição pode levar à perda progressiva da visão central.

Na alta miopia, o alongamento excessivo do olho pode causar atrofia do tecido retiniano e formação de novos vasos sanguíneos anormais sob a retina. Isso pode resultar em distorção visual, manchas cegas no campo de visão central e, em casos avançados, perda significativa da visão central.

Glaucoma e catarata precoce

Pessoas com alta miopia têm um risco aumentado de desenvolver glaucoma, uma condição caracterizada por danos ao nervo óptico, geralmente associados à pressão intraocular elevada. O alongamento do olho na alta miopia pode alterar a estrutura do nervo óptico, tornando-o mais suscetível a danos.

Além disso, a alta miopia está associada ao desenvolvimento precoce de catarata. A catarata, que é a opacificação do cristalino, geralmente é uma condição relacionada à idade, mas pode ocorrer mais cedo em pessoas com alta miopia. Isso pode exigir cirurgia de catarata em uma idade mais jovem do que o habitual.

Diagnóstico da alta miopia

O diagnóstico da alta miopia requer uma avaliação oftalmológica abrangente. Além de determinar o grau da miopia, o oftalmologista precisa examinar cuidadosamente a saúde geral do olho, com atenção especial à retina e outras estruturas que podem ser afetadas pelo alongamento excessivo do globo ocular.

Exames oftalmológicos necessários

Uma avaliação completa para alta miopia geralmente inclui uma série de exames especializados. Estes exames não apenas confirmam o diagnóstico, mas também ajudam a identificar ou monitorar possíveis complicações. Os exames típicos incluem:

• Refração e teste de acuidade visual
• Exame de fundo de olho com dilatação da pupila
• Tonometria (medição da pressão intraocular)
• Tomografia de coerência óptica (OCT) da retina e nervo óptico
• Ultrassonografia ocular
• Topografia corneana
• Angiografia com fluoresceína (em casos específicos)

Frequência das avaliações

Para pessoas com alta miopia, a frequência das avaliações oftalmológicas é crucial. Geralmente, recomenda-se consultas a cada 6 meses, ou até mais frequentemente em casos de progressão rápida ou presença de complicações.

Esta regularidade permite ao oftalmologista monitorar de perto qualquer mudança na refração ou na saúde ocular. Além disso, avaliações frequentes aumentam a chance de detectar e tratar precocemente qualquer complicação associada à alta miopia, o que pode ser fundamental para preservar a visão a longo prazo.

Tratamentos disponíveis

O tratamento da alta miopia visa não apenas corrigir o erro refrativo, mas também prevenir ou gerenciar complicações associadas. As opções de tratamento variam desde métodos conservadores, como óculos e lentes de contato, até intervenções cirúrgicas em casos específicos.

Correção com óculos e lentes de contato

Óculos e lentes de contato continuam sendo as opções mais seguras e comuns para corrigir a alta miopia. Lentes de alto índice e designs asféricos podem ser utilizados para reduzir a espessura e o peso dos óculos. Lentes de contato, incluindo opções especializadas como lentes esclerais, podem oferecer uma correção mais natural e um campo visual mais amplo.

Cirurgias refrativas para alta miopia

Cirurgias refrativas podem ser consideradas para alguns casos de alta miopia, mas requerem uma avaliação cuidadosa devido aos riscos aumentados. A decisão de realizar uma cirurgia refrativa em casos de alta miopia deve levar em conta fatores como a estabilidade da refração, a espessura da córnea e a saúde geral do olho.

LASIK e PRK

LASIK (Laser-Assisted In Situ Keratomileusis) e PRK (Photorefractive Keratectomy) podem ser opções para alguns casos de alta miopia. No entanto, essas técnicas têm limitações quanto ao grau que podem corrigir com segurança. Em casos de alta miopia, há um risco aumentado de complicações como ectasia corneana, e a previsibilidade do resultado pode ser menor.

SMILE

SMILE (Small Incision Lenticule Extraction) é uma técnica mais recente que pode ser adequada para alguns casos de alta miopia. Esta técnica é menos invasiva e preserva mais tecido corneano, o que pode ser vantajoso em olhos com alta miopia. No entanto, assim como outras cirurgias refrativas, tem limitações quanto ao grau máximo que pode corrigir com segurança.

Tratamentos para complicações

O tratamento das complicações associadas à alta miopia depende da condição específica. Para o descolamento de retina, por exemplo, intervenções como cirurgia de retina ou terapia a laser podem ser necessárias. A degeneração macular miópica pode requerer injeções intravítreas de medicamentos anti-VEGF em alguns casos.

O glaucoma associado à alta miopia geralmente é tratado com colírios para reduzir a pressão intraocular, mas pode requerer cirurgia em casos avançados. Para catarata precoce, a cirurgia de catarata com implante de lente intraocular pode ser necessária, com considerações especiais para olhos altamente míopes.

Prevenção e cuidados

Embora não seja possível prevenir completamente a alta miopia, especialmente em casos com forte componente genético, existem medidas que podem ajudar a retardar sua progressão, especialmente em crianças e adolescentes. 

Estas incluem encorajar tempo ao ar livre, limitar o tempo de tela e manter uma distância adequada durante atividades de visão próxima.

Para pessoas já diagnosticadas com alta miopia, o cuidado preventivo é crucial. Isso inclui usar proteção ocular adequada durante atividades de risco, manter uma dieta rica em nutrientes benéficos para a saúde ocular e evitar o tabagismo, que pode aumentar o risco de complicações.

É fundamental seguir rigorosamente as recomendações do oftalmologista quanto à frequência das consultas e exames. A detecção precoce de complicações pode fazer uma diferença significativa no prognóstico visual a longo prazo.

Pesquisas e avanços no tratamento da alta miopia

A pesquisa no campo da alta miopia está em constante evolução. Cientistas estão investigando novos tratamentos para retardar a progressão da miopia em crianças, incluindo o uso de atropina em baixa dosagem e lentes de contato especiais para controle da miopia.

Avanços na tecnologia de imagem ocular, como OCT de alta resolução e angiografia OCT, estão melhorando nossa capacidade de detectar e monitorar mudanças sutis associadas à alta miopia. Isso permite intervenções mais precoces e direcionadas.

No campo cirúrgico, novas técnicas estão sendo desenvolvidas para abordar as complicações da alta miopia. Isso inclui abordagens minimamente invasivas para o tratamento de membranas neovasculares e novas estratégias para reforçar a esclera em olhos altamente míopes. 

Essas pesquisas prometem melhorar significativamente o manejo da alta miopia e suas complicações no futuro.