Uveíte associada a Artrite Idiopática Juvenil (AIJ): Rastreamento, diagnóstico, tratamento e monitoramento

Para Oftalmologistas

Tempo de leitura
< 1 minuto
Tempo
< 1 m

A artrite idiopática juvenil (AIJ) é a doença reumatológica mais comum em crianças e a uveíte associada à AIJ é sua manifestação extra-articular mais frequente. Um atraso no diagnóstico dessa uveíte pode resultar em danos irreversíveis na visão. Nesse contexto, a triagem eficiente funciona como prevenção secundária, pois é essencial para evitar o comprometimento visual e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com AIJ.

Para orientar o manejo da uveíte relacionada à AIJ no Brasil, a SBOP (Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica) desenvolveu diretrizes baseadas em evidências para a rotina prática de rastreamento, diagnóstico, tratamento e monitoramento de uveíte sob a perspectiva conjunta de especialistas em oftalmologia e reumatologia de todo o país. E para o rastreio e diagnóstico adequados, é imprescindível sabermos mais sobre a apresentação clínica dessa patologia.

O que é artrite idiopática juvenil?

A uveíte é principalmente anterior (iridociclite), não granulomatosa, bilateral, geralmente persistente (duração> 3 meses) e raramente limitada (duração ≤ 3 meses). O curso clínico pode ser crônico (uveíte persistente com recidiva em <3 meses após a interrupção do tratamento), recorrente (episódios repetidos separados por períodos de inatividade sem tratamento com duração ≥ 3 meses de duração) e aguda (uveíte limitada com início súbito).

Sua forma mais comum observada na AIJ é a uveíte anterior crônica (UAC) , que quase sempre é assintomática nos estágios iniciais. A detecção precoce e o tratamento minimizam a inflamação intra-ocular e evitam complicações, como sinéquias, ceratopatia, catarata, glaucoma ou hipertensão ocular e fibrose macular, que podem levar à perda visual. Um terço dos pacientes com AIJ já apresenta complicações oculares no momento do diagnóstico, com incidência destas complicações chegando a 67% das crianças.

A UAC geralmente está associada com idade mais jovem no início da AIJ (menos de 6 anos), sexo feminino, doença oligoarticular (quatro ou menos articulações no início da doença) e positividade do FAN. FAN positivo ocorre em 70 a 90% dos casos de uveíte. A idade média de início da artrite é de 4-5 anos em pacientes com uveíte e de 7 anos em pacientes sem uveíte. A artrite geralmente precede a uveíte, em uma média de 4-5 meses.

O rastreamento oftalmológico de uveíte é recomendado nas primeiras 6 semanas após o diagnóstico de AIJ ou suspeição diagnóstica. Devem ser realizados medida da acuidade visual monocular, medição da pressão intraocular (PIO), avaliação da biomicroscopia na lâmpada de fenda e fundoscopia.

A biomicroscopia pode revelar inflamação da câmara anterior, caracterizada pela presença de células, e as próprias complicações da doença. A reação da câmara anterior é a resposta mais sensível às medidas de tratamento, pois seu controle está associado a menos danos funcionais e melhor qualidade de vida relacionada à saúde.

? Aproveite para ler: Como melhorar a visão? Checklist Fácil com 12 passos

Como é feito o tratamento da artrite idiopática juvenil?

Para o tratamento apropriado da doença, é indispensável a comunicação eficaz entre reumatologistas pediátricos e oftalmologistas, visando um cuidado multidisciplinar. O tratamento de primeira linha para uveíte anterior aguda e crônica são glicocorticóides tópicos. Faltam evidências sobre seu regime exato para o tratamento desta uveíte. Aproximadamente 40% dos pacientes com uveíte associada à AIJ não respondem adequadamente aos glicocorticóides tópicos .

O metotrexato (MTX) continua sendo a primeira terapia de segunda linha. Os algoritmos atuais recomendam que, se houver piora da doença ou falha no tratamento após 3 meses de MTX em dose máxima, então uma droga biológica é adicionada (Figura 1). A uveíte, os seus tratamentos e os efeitos colaterais destes, podem ter um impacto relevante na qualidade de vida de uma criança e sua família. Manter a adesão terapêutica para uma condição que é frequentemente assintomática também pode ser um desafio.

As avaliações devem ocorrer em intervalos entre 2 – 6 semanas e podem ser ajustadas com base na frequência do glicocorticóide tópico prescrito, na pressão intraocular, no grau de inflamação e na presença de complicações, de acordo com a equipe multiprofissional responsável pelo tratamento (Figura 2).

A uveíte associada à AIJ continua sendo um desafio para reumatologistas pediátricos e oftalmologistas, com um número significativo de crianças ainda desenvolvendo complicações. Embora a compreensão da patogênese da uveíte não infecciosa seja crescente, faltam estudos com foco específico na uveíte associada à AIJ, como a identificação de biomarcadores genéticos ou plasmáticos, o que permitiria a estratificação dos pacientes que apresentem maior risco de evolução mais grave, visando, assim, reduzir os impactos negativos da doença.

Figura 1. Algoritmo para o tratamento da uveíte anterior crônica (UAC) relacionada à artrite idiopática juvenil (AIJ) de acordo com o American College of Rheumatology/Arthritis Foundation (ACR/AF).

Figura 2. Algoritmo para acompanhamento oftalmológico da uveíte associada à artrite idiopática juvenil de acordo com a atividade inflamatória e com a estratégia terapêutica.

Referências

Neves, L. M. et al. Monitoring and Treatment of Juvenile Idiopathic Arthritis-associated Uveitis: Brazilian Evidence-based Practice Guidelines. Ocular Immunology and Inflammation

Sen ES, Ramanan AV. Juvenile idiopathic arthritis-associated uveitis. Clin Immunol. 2020;211:108322. doi:10.1016/j.clim.2019.10832

mulher em consultório para verificar doenças tratadas por oftalmologistas

Quais doenças um oftalmologista trata?

As doenças tratadas por oftalmologistas vão muito além dos problemas de visão mais conhecidos, como miopia e astigmatismo. O especialista em saúde ocular é responsável[...]

Mulher brasileira conversando com médico durante sua primeira consulta com oftalmologista, em um consultório equipado com instrumentos de exame ocular.

O que esperar da sua primeira consulta com um oftalmologista

Vai fazer a sua primeira consulta com oftalmologista? Muitas vezes, a visão fica ótima durante longos anos sem nenhuma preocupação… Até que começam os incômodos:[...]

Leia nossos conteúdos

mulher em consultório para verificar doenças tratadas por oftalmologistas
Dr. Lorena Botelho Vergara
Oftamologista
Tempo de leitura
3 m
Tempo
3 m

Quais doenças um oftalmologista trata?

As doenças tratadas por oftalmologistas vão muito além dos problemas de visão mais conhecidos, como[...]

Mulher brasileira conversando com médico durante sua primeira consulta com oftalmologista, em um consultório equipado com instrumentos de exame ocular.
Dr. Lorena Botelho Vergara
Oftamologista
Tempo de leitura
3 m
Tempo
3 m

O que esperar da sua primeira consulta com um oftalmologista

Vai fazer a sua primeira consulta com oftalmologista? Muitas vezes, a visão fica ótima durante[...]

Profissional realizando exame ocular em paciente durante uma consulta oftalmológica eficiente, utilizando lâmpada de fenda em um consultório moderno.
Dr. Lorena Botelho Vergara
Oftamologista
Tempo de leitura
3 m
Tempo
3 m

Dicas para aproveitar ao máximo sua consulta oftalmológica

Atendimento marcado? Agora, é hora de aprender a ter uma consulta oftalmológica eficiente. Com algumas[...]

mulher em consultório para verificar doenças tratadas por oftalmologistas
Dr. Lorena Botelho Vergara
Oftamologista
Tempo de leitura
3 m
Tempo
3 m

Quais doenças um oftalmologista trata?

As doenças tratadas por oftalmologistas vão muito além dos problemas de visão mais conhecidos, como[...]

Mulher brasileira conversando com médico durante sua primeira consulta com oftalmologista, em um consultório equipado com instrumentos de exame ocular.
Dr. Lorena Botelho Vergara
Oftamologista
Tempo de leitura
3 m
Tempo
3 m

O que esperar da sua primeira consulta com um oftalmologista

Vai fazer a sua primeira consulta com oftalmologista? Muitas vezes, a visão fica ótima durante[...]