Um bom desempenho nas pistas de automobilismo depende da combinação de diversos fatores (carro, estratégia, equipe…). Contudo, nem todo mundo conhece um dos mais importantes: a visão dos pilotos de Fórmula 1.
Quando um carro atinge mais de 300 km/h, o cérebro precisa interpretar o mundo em altíssima velocidade. Cada curva, frenagem e ultrapassagem exige que o piloto tome decisões em questão de milissegundos. Desse modo, qualquer erro na percepção visual pode ter consequências graves.
É natural imaginar que esses pilotos possuam uma visão perfeita, quase sobre-humana, mas será que isso é verdade? Será que todos nascem com “visão 20/20”? A resposta surpreende: a excelência visual no automobilismo é tanto treinada quanto inata.
5 fatos surpreendentes sobre a visão dos pilotos de Fórmula 1
Muitos usam óculos e lentes de contato
A ideia de que a visão dos pilotos de Fórmula 1 é perfeita não passa de um mito. A Fédération Internationale de l’Automobile (FIA) permite o uso de lentes de contato e óculos de grau, e muitos campeões se beneficiam disso:
- Jacques Villeneuve (campeão de 1997) competia com lentes de contato;
- Sebastian Bourdais usava óculos de grau durante corridas;
- Nico Hülkenberg também utilizou lentes até realizar uma cirurgia a laser.
Ralf Schumacher, míope, foi além. Ele chegou a desenvolver com a Schuberth um capacete personalizado com canais internos para suas armações, unindo engenharia, balística e ergonomia.
Esses exemplos mostram que, no topo do automobilismo, a visão não é um dom, é um desafio técnico e fisiológico a ser vencido.
A pista oferece riscos aos olhos
Mesmo com a visão corrigida, o cockpit é um ambiente hostil para os olhos.
As forças G em frenagens e curvas podem deslocar lentes ou óculos, e a baixa frequência de piscadas devido à concentração extrema provoca ressecamento ocular intenso.
Pilotos como Nico Rosberg relatavam olhos avermelhados e irritados após as provas. E ainda há o risco de uma lente deslocar ou um óculos quebrar em meio à corrida, um perigo que pode custar uma vitória (ou causar algo pior).
Max Verstappen relatou visão curva em várias corridas
O caso de Max Verstappen em Silverstone (2021) é emblemático. Após um impacto de 51G (força 51 vezes maior que a gravidade da Terra), ele relatou visão turva por várias corridas:
“Era como dirigir uma lancha a 300 km/h… pensei seriamente em parar o carro.”
Mesmo assim, o piloto holandês continuou competindo e conquistou o campeonato, mostrando que a resiliência visual e neurológica é tão crucial quanto a capacidade técnica.
A visão dos pilotos de Fórmula 1 precisa ser treinada
A visão “20/20”, medida no teste de Snellen, não avalia o que realmente distingue os pilotos de elite. Segundo o Dr. Ricardo Guimarães, oftalmologista e neurocientista, o diferencial da visão dos pilotos de Fórmula 1está nas habilidades visuais dinâmicas, capacidades que podem ser treinadas:
- Acuidade visual dinâmica: perceber detalhes sutis em objetos a 300 km/h;
- Visão periférica refinada: detectar carros nos pontos cegos sem perder o foco da curva;
- Percepção de profundidade (estereopsia): julgar distâncias com precisão milimétrica;
- Tempo de reação visual: transformar estímulos luminosos em respostas musculares instantâneas.
Essas habilidades são treinadas em laboratórios de performance visual, com técnicas que unem neurociência, reflexos e realidade aumentada.
O automobilismo já teve um piloto com cegueira estéreo
O sueco Thomas Danielsson é um exemplo impressionante. Ele chegou à F3000 e testou um carro de Fórmula 1 sem enxergar em 3D. Isso porque sofria de cegueira estéreo (stereoblindness).
Sua condição foi descoberta tardiamente, após técnicos notarem traçados anormais e erros de frenagem. Danielsson enxergava o mundo de forma bidimensional, como um jogo de videogame da época. Mesmo assim, adaptou-se e competiu em altíssimo nível.
Um testemunho extraordinário da plasticidade cerebral e da capacidade humana de compensar limitações visuais com estratégias neurológicas.
Assim como os pilotos de Fórmula 1 treinam constantemente para manter a visão rápida e precisa, todos nós precisamos acompanhar e cuidar da saúde visual ao longo da vida.
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