O diabetes é uma das doenças crônicas mais comuns no mundo e, infelizmente, seus efeitos não ficam restritos apenas ao sangue ou à glicemia. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas convivam com o diabetes atualmente, e esse número deve continuar crescendo nas próximas décadas, segundo DF Diabetes Atlas, 2021.
Entre as várias complicações do diabetes, a visão ocupa lugar de destaque. A retinopatia diabética é hoje uma das principais causas de cegueira irreversível em adultos em idade produtiva, especialmente entre os 20 e 64 anos. Estudos mostram que cerca de 1 a 2% dos pacientes com diabetes chegam a desenvolver perda visual grave ou cegueira ao longo da vida se não houver diagnóstico precoce e tratamento adequado. Isso significa que, sem os devidos cuidados, milhares de pessoas podem perder a capacidade de enxergar em plena fase ativa da vida.
Essa realidade torna ainda mais importante o acompanhamento regular com o oftalmologista e o conhecimento sobre as opções de tratamento que ajudam a preservar a visão. Entre elas, o laser ocupa um papel fundamental.
O que é a retinopatia diabética?
O diabetes pode danificar os vasos sanguíneos da retina — a parte do olho que funciona como o “filme de uma câmera fotográfica”, responsável por captar as imagens que vemos. Quando esses vasos ficam enfraquecidos, ocorrem pequenos sangramentos e inchaços: é a fase inicial, chamada de retinopatia diabética não proliferativa.
Com o tempo, a falta de oxigênio em partes da retina faz com que o olho libere substâncias que estimulam o crescimento de novos vasos anormais, conhecidos como neovasos. Esses vasos são frágeis, crescem em locais inadequados e podem sangrar facilmente. Essa fase é chamada de retinopatia diabética proliferativa (RDP) e é a principal responsável pelos casos de cegueira ligados ao diabetes.
Se não for tratada, a RDP pode causar complicações graves como:
- Hemorragia vítrea:sangramento dentro do olho, que causa visão borrada repentina, como se uma tinta fosse espalhada sobre a lente da câmera.
- Descolamento de retina tracional:quando os vasos anormais puxam a retina, podendo levar à perda total da visão.
- Glaucoma neovascular:vasos que crescem na íris e aumentam a pressão do olho de forma agressiva.
Quando o laser é indicado?
O laser é recomendado quando esses vasos anormais aparecem na retina ou na íris, especialmente quando já houve algum sangramento. Grandes estudos clínicos (DRS e ETDRS) mostraram que, sem tratamento, até 1 em cada 4 pacientes pode ficar cego em 2 anos. Com o laser, esse risco cai para menos de 1 em cada 10 pacientes.
É importante entender que o laser não devolve a visão perdida, mas atua como um freio de emergência, impedindo que a doença avance para complicações mais graves. Em alguns casos, ele é combinado com injeções intraoculares de medicamentos anti-VEGF, que funcionam como um bloqueador do “adubo” que alimenta os vasos anormais.
Como funciona o laser?
O laser age em áreas da retina que já não funcionam bem. É como se o médico desligasse “tomadas” que estão consumindo energia sem utilidade. Isso reduz o estímulo para a formação de novos vasos e ajuda a estabilizar a doença.
Graças às tecnologias atuais, o tratamento é mais rápido, menos incômodo e com menos riscos de complicações do que antigamente.
A experiência do paciente
- Antes do procedimento:a pupila é dilatada com colírios e o olho recebe um colírio anestésico. Em casos mais sensíveis, pode-se aplicar uma anestesia mais forte, chamada de bloqueio peribulbar, a mesma utilizada nas cirurgias de catarata.
- Durante:o paciente vê flashes de luz enquanto o laser é aplicado. Algumas pessoas sentem apenas incômodo; outras relatam leves pontadas. O procedimento costuma durar entre 15 e 30 minutos.
- Após o laser:a visão pode ficar um pouco embaçada e os olhos mais sensíveis à luz por alguns dias. Colírios anti-inflamatórios podem ser prescritos para maior conforto.
Efeitos colaterais possíveis
Embora seguro, o laser pode trazer alguns efeitos colaterais, como:
- Diminuição do campo visual lateral, como se o “ângulo da câmera” ficasse mais fechado.
- Dificuldade para enxergar no escuro, devido à redução da sensibilidade da retina periférica.
- Aumento temporário do inchaço da mácula (parte central da visão).
Mesmo assim, esses efeitos costumam ser muito menos graves do que os riscos de não tratar a doença.
Seguimento após o laser
O acompanhamento faz parte do tratamento:
- Primeira consulta de revisão entre 1 e 2 semanas.
- Consultas mensais até que os vasos anormais regredam.
- Depois, retornos regulares a cada 3 a 6 meses.
- Exames complementares como tomografia de coerência óptica (OCT)e angiografia de retina podem ser solicitados para avaliar a evolução.
O sucesso do tratamento depende não apenas do laser, mas também do controle do diabetes, da pressão arterial e do colesterol.
Laser: o Aliado na Luta Contra a Cegueira Causada pela Retinopatia Diabética Proliferativa
A retinopatia diabética proliferativa é uma ameaça real à visão de quem tem diabetes, mas o laser é um aliado poderoso para evitar a cegueira. O procedimento é seguro, rápido e, na maioria dos casos, procure o melhor oftalmologista para avaliação no AgendaOftalmo.
Com seguimento regular e cuidados gerais com a saúde, é possível preservar a visão e manter a qualidade de vida. Em outras palavras: quando a retina pede socorro, o laser pode ser a defesa que impede a cegueira.
Referências
- International Diabetes Federation. IDF Diabetes Atlas, 10th edition, 2021.
- Diabetic Retinopathy Study Research Group. Preliminary report on effects of photocoagulation therapy.Am J Ophthalmol. 1976;81(4):383-396.
- Early Treatment Diabetic Retinopathy Study Research Group. Photocoagulation for diabetic macular edema: ETDRS report number 1.Arch Ophthalmol. 1985;103(12):1796-1806.
- American Academy of Ophthalmology. Preferred Practice Pattern: Diabetic Retinopathy (2024).Disponível em: org
- Sivaprasad S, et al. The evolving role of laser photocoagulation in diabetic retinopathy.Eye (Lond). 2020;34:232–241.
- Bressler SB, et al. Panretinal photocoagulation vs intravitreous ranibizumab for proliferative diabetic retinopathy. 2015;314(20):2137–2146.
- Virgili G, et al. Anti-VEGF versus laser for proliferative diabetic retinopathy.Cochrane Database Syst Rev. 2020; Issue 7.