Última atualização em 14 de fevereiro de 2024 por
Acredito que todos nós sabemos da importância que o sentido da visão possui para exercermos muitas das nossas atividades diárias. O olho humano é o grande responsável por receber a informação luminosa de tudo o que está ao nosso redor e transmiti-la ao nosso cérebro, construindo uma imagem daquilo que entendemos como “o nosso mundo”. Mas você já parou pra pensar em como o olho humano é organizado estruturalmente? Como essa estrutura tão pequena é capaz de me fornecer uma imagem tão precisa de tudo que me rodeia? Para entendermos melhor como é formado o nosso sentido da visão, vamos hoje, em conjunto, fazer uma construção anatômica dos nossos olhos!
Em primeiro lugar, imaginem que os nossos olhos possuem um formato esférico, como se fossem semelhantes a uma bola de golf. Essa estrutura capta todas as informações do mundo em que habitamos e as envia para o nosso cérebro, a fim de termos a formação de uma imagem extremamente precisa do ambiente que nos cerca.
Em termos anatômicos, para ser mais preciso, o nosso olho é um pouco maior no sentido horizontal do que no vertical, tendo cerca de 4,5cm de largura, contra 3,5 cm de altura. Além disso, possui uma profundidade de cerca de 4,0cm. Esse tamanho pode variar entre as pessoas e, inclusive, é um dos fatores que pode determinar se a pessoa vai ter algum grau de miopia ou hipermetropia.
Partes do olho humano
Na sua parte mais anterior, a primeira estrutura que encontramos é a córnea; A córnea é uma estrutura transparente, que possui funções cruciais para uma boa visão. Além de uma função de proteção, a córnea, por ser transparente, permite que a luz que vem do ambiente externo consiga atravessá-la e focar a imagem na retina. Portanto, ela funciona como uma “lente” que ajuda a convergir toda a informação externa que enxergamos em um único ponto do nosso olho – na retina. Sua transparência é mantida por características específicas de cada uma das camadas da córnea. Uma perda na função de algumas dessas camadas pode levar a diversas alterações como opacidades na córnea, depósitos de substâncias, acúmulo de líquidos, levando a uma diminuição da nossa visão. Além disso, uma alteração significativa na curvatura da córnea pode levar ao que chamamos de astigmatismo. Por exemplo, se a córnea de uma pessoa for muito mais curva no sentido vertical do que no sentido horizontal, essa diferença forma um “grau de astigmatismo” que geralmente o oftalmologista prescreve nos óculos para corrigi-la. Se, em algumas condições, identificarmos astigmatismos ainda maiores, temos que pesquisar algumas doenças, como o ceratocone. Por fim, vale dizer que a córnea é a estrutura com maior número de terminações nervosas do nosso corpo inteiro!! Por este motivo, qualquer grão de areia que cai em nosso olho causa extremo desconforto, irritação e dor.
Ainda na parte anterior do olho, não podemos deixar de mencionar a “parte branca” que nada mais é do que a esclera, recoberta por conjuntiva. A esclera é uma camada fibrosa, opaca (branca) que, na verdade, circunda todo o globo ocular, possuindo função de proteção e contenção. Entretanto, só conseguimos enxergar sua parte anterior. É na esclera que se inserem os músculos oculares externos, que irão permitir a realização de todos os movimentos dos nossos olhos.
Entrando um pouco mais no olho, encontramos a íris. A íris é uma estrutura composta por músculos que são estimulados a se contrair ou relaxar de acordo com o estímulo enviado pelo nosso cérebro. Diversos estímulos levam a essa alteração no tônus da íris, como intensidade luminosa, situações de medo, medicações, entre outros. Ao se contraírem ou relaxarem, os músculos da íris promovem uma menor ou maior abertura da pupila, que nada mais é do que um orifício que permite a passagem da luz da parte anterior do olho para a parte posterior. Quando a pupila está dilatada (midríase), maior quantidade de luz entra para o nosso olho. Quando está menos dilatada ou contraída (miose), menor quantidade de luz passa para o fundo do olho. Ainda sobre a íris, de acordo com a quantidade de pigmentos de melanina presente nela, podemos encontrar variações na sua cor. Isso determina o que muitos chamam “a cor dos olhos” ou “a menina dos olhos”, que normalmente podem variar entre tons de azul, verde e castanho.
Para que toda a luz possa chegar até a retina de forma precisa, ela ainda precisa passar por algumas estruturas. Logo atrás da pupila, encontramos o cristalino. Muitos denominam essa estrutura como a “lente interna do olho”. Assim como a córnea, ela tem capacidade de convergir a imagem do meio externo para a retina, entretanto, em uma intensidade menor do que a primeira. Por outro lado, essa “lente” tem a grande característica de modificar o seu formato para que possamos focar de maneira adequada o objeto o qual estamos fixando com os olhos. Se, por exemplo, estamos olhando uma paisagem pela janela e, de repente, voltamos nossa visão para um livro ou um celular à nossa frente, nosso olho precisa rapidamente mudar o foco para manter a imagem nítida na retina. O grande contribuinte para este ajuste é o nosso cristalino – e esse trabalho é tão rápido e preciso que nem somos capazes de perceber.
Com a idade, especialmente a partir dos 40 anos, o nosso cristalino vai perdendo essa capacidade de acomodação da imagem. Com isso, vai ficando mais difícil focar os objetos que estão, principalmente, a uma curta distância dos nossos olhos. É por esse motivo que a tela do computador fica embaçada, a linha não passa mais pela agulha, e precisamos afastar cada vez mais os nossos braços para poder focar com precisão. Esse fenômeno é chamado presbiopia, popularmente conhecida como “vista cansada”. Para sua correção, precisamos adicionar um “grau de perto” que possa compensar esse trabalho que o cristalino não consegue fazer.
Também com o passar da idade, o cristalino, que recebeu raios ultravioletas do ambiente, além de outros fatores que geraram dano celular ao longo da vida, começa a perder sua transparência e a opacificar. É o início do desenvolvimento da catarata. A catarata faz parte do processo normal de envelhecimento do cristalino. Quanto mais idosos ficamos, maior a chance de essa catarata evoluir (“amadurecer”) e causar problemas visuais, principalmente “embaçamento da visão”. Em determinado momento, precisamos da ajuda dos médicos oftalmologistas, para retirarmos esse “cristalino envelhecido” e substituí-lo por uma lente artificial que nos permitirá enxergar o mundo com precisão novamente. Este é o princípio da cirurgia de catarata.
Após passar pelo cristalino, para que a imagem chegue de forma adequada na retina ela ainda precisa passar pelo vítreo. O vítreo é uma estrutura composta 98% por água, que se parece com um “gel” e apresenta funções importantes para o nosso olho. Primeiro, é ele quem preenche a maior parte da cavidade do globo ocular, mantendo seu tônus adequado. Além disso, ele nutre e mantém saudáveis algumas estruturas do nosso olho, como o cristalino, por exemplo, e a sua transparência é crucial para a luz chegar até a retina.
Situações em que ocorre uma inflamação ou um sangramento dentro do vítreo cursam com uma diminuição importante da nossa visão!
Ainda sobre o vítreo, vale aqui ressaltar uma queixa muito comum no consultório relacionada a essa estrutura: são as chamadas “moscas volantes”. Com o avançar da nossa idade, a partir dos 40 anos o vítreo começa a se descolar da parede interna do globo ocular, num processo que denominamos “descolamento de vítreo posterior”. Ao longo deste processo natural de descolamento, os pacientes podem relatar que enxergam “pontos pretos” percorrendo sua visão, “moscas volantes”, “teias de aranha”, entre outros termos. Esses sintomas podem aumentar até que ocorra um descolamento total desse vítreo, entretanto, com o tempo, tendem a ser suprimidos pelo nosso cérebro. Durante esse processo, devemos ressaltar a importância do acompanhamento com o oftalmologista, pois, embora não seja comum, em alguns casos o descolamento do vítreo pode causar roturas na retina, com seu consequente descolamento, gerando potenciais complicações para a nossa visão!
Finalmente, após passarmos por todas essas estruturas, a luz chega de maneira precisa na nossa retina. A retina é composta por camadas extremamente finas de diferentes células, cada uma com uma função específica, para receber a informação do meio externo. Na verdade, nessa estrutura existem milhões de células que vão receber esta energia luminosa e transformá-la em energia química: são os chamados fotorreceptores. Uma parte dessas células são mais sensíveis à quantidade de luz, outras mais sensíveis a cores, mas todas elas capazes de captar a informação luminosa do ambiente externo. O trabalho em conjunto de milhares de células fotorreceptoras estimuladas vai gerar um potencial de energia que será transmitido a centenas ou milhares de axônios que irão percorrer um caminho em comum e levar essa informação até o nosso cérebro. Pra vocês terem noção da complexidade que é isso, cada olho humano possui dezenas de milhões de fotorreceptores que irão receber a energia luminosa externa e transformá-la em energia eletroquímica que será transmitida para outras células nervosas através de conexões (sinapses) ainda dentro do globo ocular. Por fim, as células ganglionares recebem esse estímulo e se juntam formando o nervo óptico, o qual levará a informação da imagem que observamos para ser interpretada pelo nosso cérebro. Mais especificamente, cerca de 1 milhão e duzentos mil axônios de células ganglionares se unem na região posterior do olho para formar este nervo. Podemos dizer, portanto, que este o nervo óptico é um prolongamento do nosso sistema nervoso central que está em contato direto com o ambiente externo! Incrível, não é mesmo? De acordo com a quantidade e tipo de células receptoras estimuladas na retina, diferentes respostas serão enviadas ao cérebro através do nervo óptico. Essas respostas serão, então, interpretadas pelo nosso sistema nervoso central e levarão à formação de uma imagem!
Deu para perceber a complexidade e ao mesmo tempo a beleza que o nosso olho detém para que sejamos capazes de captar a informação do ambiente externo e transformá-la em uma imagem que faça sentido para o nosso cérebro? Cada estrutura desse órgão, como vimos, possui papel fundamental – nem menos ou mais importante – no desenvolvimento de um dos nossos sentidos que eu, particularmente, tenho grande apreciação: a nossa visão.
Se você não entendeu alguma dessas estruturas ou gostaria de saber mais sobre elas ou, ainda, se tiver alguma dúvida relacionada a alguma outra estrutura que não foi mencionada neste texto, deixe um comentário ou nos escreva! Somos apaixonados pela nossa visão, pela sua visão, e estaremos contentes em compartilhar este conhecimento!