Certificado ISO 27001

Anemia e os olhos: entenda a relação entre os dois

anemia-e-a-sua-visao-como-isso-afeta-seus-olhos

Durante o exame clínico geral, muitos pacientes me perguntam por que estou avaliando seus olhos. Quando respondo que o exame ocular pode me mostrar – dentre diversas outras coisas – se há algum tipo de anemia, por exemplo, todos ficam curiosos e questionam se essa doença tem relação com a

Sumário

Durante o exame clínico geral, muitos pacientes me perguntam por que estou avaliando seus olhos. Quando respondo que o exame ocular pode me mostrar – dentre diversas outras coisas – se há algum tipo de anemia, por exemplo, todos ficam curiosos e questionam se essa doença tem relação com a visão. 

A resposta é sim, os olhos podem nos fornecer informações muito importantes sobre o estado clínico de um paciente, inclusive se há algum tipo de anemia. 

Se você quer entender mais sobre a relação da doença e os olhos, continue a leitura que vou explicar a você! 

O que é a anemia?

Essa é a deficiência nos níveis de uma molécula chamada hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio para as células do corpo. 

A hemoglobina contém, em seu interior, átomos de ferro e fica localizada dentro das células vermelhas do sangue, os eritrócitos ou também chamados de hemácias. 

Essas células são discos bicôncavos, avermelhados, muito maleáveis, que se dobram para passar através dos menores capilares do corpo e apresentam vida média de 120 dias em indivíduos normais.

Anemia e os olhos: entenda a relação entre os dois
Figura 1: Hemácias normais com formato bicôncavo. (Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/hem%C3%A1cia-sangue-humano-micro-5280112/)

Tipos de anemia 

Existem diversos tipos de anemia. Alguns causados por deficiências nutricionais como, por exemplo, a carência de ferro (ferropriva) e/ou de vitaminas, e aquelas com caráter genético, como a falciforme ou as talassemias. 

O primeiro grupo leva à diminuição da produção das células vermelhas do sangue por falta de elementos necessários para sua formação; por exemplo, sem ferro, não há como produzir hemoglobina e, por isso, seus níveis diminuem dentro das células. 

No segundo grupo, o mecanismo que leva a essa condição é a destruição precoce dos eritrócitos. A anemia falciforme é uma doença genética que causa alterações estruturais e funcionais na molécula da hemoglobina. 

Em condições de baixa concentração de oxigênio, febre e desidratação as moléculas de hemoglobina se agrupam (polimerizam) dentro do eritrócito alterando sua forma e deixando-o mais rígido e viscoso. 

Essas alterações fazem com que ocorram danos à superfície dos eritrócitos, sinalizando para as células de defesa do corpo que devem retirá-los de circulação rapidamente. Nas talassemias, por sua vez, ocorrem mutações no DNA que levam à diminuição na produção da hemoglobina, fazendo com que as hemácias fiquem com pouca quantidade dessa molécula.

Anemia e os olhos: entenda a relação entre os dois
Figura 2: Hemácias com formato alterado “em foice” no paciente com anemia falciforme. (Fonte: https://pixnio.com/pt/ciencia/imagens-de-microscopia/paciente-falciforme-celula-anemia-hbss-sangue); https://pixnio.com/pt/ciencia/imagens-de-microscopia/foice-celula-doenca-herdar-dois-foice-celular-genes-um-pai)

Sintomas da anemia

De modo simplificado, a redução da quantidade de hemoglobina leva à diminuição da concentração de oxigênio transportado e o paciente com anemia pode experimentar sintomas como:

  • palidez de pele e mucosas;
  • cansaço;
  • falta de apetite;
  • dor de cabeça;
  • diminuição da visão;
  • alterações na visão noturna;
  • tontura;
  • falta de ar;
  • dor no peito e;
  • desejo por comer coisas estranhas, como terra e gelo. 

Olhos amarelos pela anemia

Nas anemias causadas por destruição precoce e em massa das hemácias, como na anemia falciforme, pode ocorrer ainda um fenômeno chamado icterícia, que é a coloração amarelada de pele e mucosas, devido ao acúmulo de pigmentos biliares formados no processo de reciclagem das moléculas de hemoglobina no fígado. 

Assim, quando avaliamos os olhos de um paciente durante o exame clinico, estamos buscando alterações como palidez de mucosas ou amarelamento dos tecidos oculares, que podem nos indicar que o paciente pode estar anêmico.

Anemia e os olhos: entenda a relação entre os dois
Figura 3: Amarelamento da esclera em pacientes com icterícia. (Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Scleral_Icterus.jpg)

Cegueira e anemia: tem relação?

Outra pergunta frequente no consultório é se a anemia pode causar algum tipo de cegueira. A resposta para essa pergunta também é sim, e os mecanismos relacionados a essa condição são diversos. 

Alguns estudos revelam que os pacientes com anemia apresentam alterações na retina, uma fina película de tecido nervoso que fica dentro dos olhos e que é responsável por enviar as imagens que enxergamos para serem processadas em nosso cérebro. Com a doença, a retina pode apresentar-se mais afinada, com hemorragias e dilatação dos vasos sanguíneos. 

Acredita-se que nos pacientes com anemia ocorra diminuição da quantidade de oxigênio ofertada à retina, levando à dilatação dos vasos (na tentativa de tentar fazer mais sangue chegar a esse tecido) e, consequentemente, extravasamento de células do sangue. Isso pode levar a hemorragias e a baixa visão. 

Nos pacientes com deficiência de vitamina B12 associada, ainda pode ocorrer atrofia do nervo óptico, porém é algo raro, que ocorre em menos de 1% das pessoas que estão com essa condição. 

O que mais pode acontecer com quem tem a doença?

A deficiência de ferro pode levar ainda a outras alterações no sangue como:

  • aumento de plaquetas, chamado trombocitose;
  • aumento da viscosidade do sangue e;
  • diminuição da deformabilidade das células, tornando-as menos maleáveis. 

Na anemia falciforme, a polimerização da hemoglobina dentro dos eritrócitos também os torna mais rígidos, dificultando sua passagem por pequenos vasos como, por exemplo, os vasos da retina. 

Todas essas modificações descritas fazem com o que o sangue dos pacientes com anemia fique mais viscoso podendo levar ao entupimento dos vasos retinianos, reduzindo drasticamente o suprimento de sangue e oxigênio para esse tecido tão nobre. 

O tecido da retina é muito sensível e ao ficar sem irrigação e sem oxigenação pode morrer facilmente, levando a cegueira súbita e, na maioria dos casos, irreversível. 

A boa notícia é que, após a identificação do tipo de anemia e a instituição do tratamento adequado, a maioria dos sintomas visuais experimentados tende a ser reversível. 

Entretanto, existem os casos que evoluem de modo dramático, rápido e irreversível. Por isso, ao experimentar algum dos sintomas explicitados nesse artigo, é importante procurar o seu médico de confiança. 

Agende a sua consulta com a Agenda Oftalmo

Mais artigos

anemia-e-a-sua-visao-como-isso-afeta-seus-olhos
Para Pacientes
Dra Ana Carolina Bonini

Anemia e os olhos: entenda a relação entre os dois

Durante o exame clínico geral, muitos pacientes me perguntam por que estou avaliando seus olhos. Quando respondo que o exame ocular pode me mostrar – dentre diversas outras coisas – se há algum tipo de anemia, por exemplo, todos ficam

Leia mais »
tremedeira no olho
Para Pacientes
Joao Victor Cunha Miranda

Tremedeira no olho: saiba o que é e suas causas

Você já sentiu tremedeira no olho? Tremor palpebral, também conhecido como mioclonia, é uma queixa comum e preocupante por parte dos pacientes. Essa situação é algo incontrolável, causada pela contração do músculo que circunda a órbita, o músculo orbicular do

Leia mais »
dor ocular
Para Pacientes
Dr. Renan Memória

Dor ocular: saiba o que pode causar o desconforto

Sentir dor no olho, além de ser um grande incômodo, pode ser um sinal de alerta. A dor ocular pode surgir de repente ou aos poucos, ser leve ou intensa, e às vezes vem acompanhada de outros sintomas, como vista

Leia mais »
cor dos olhos
Para Pacientes
Dr. Renan Memória

Cor dos olhos: saiba como funciona a Íris

A cor dos olhos é um tema que desperta curiosidade em pacientes e, em algumas situações, levanta questões importantes durante o atendimento oftalmológico.  Entender como a íris funciona é fundamental para explicar aos pacientes desde características genéticas até possíveis alterações

Leia mais »