A Aberrometria Ocular com Análise de Frentes de Ondas é o exame responsável por medir as distorções (ou aberrações) sofridas pela luz até atingir a retina. Esta ferramenta é utilizada tanto para o diagnóstico das aberrações oculares e da qualidade visual, como para o tratamento das aberrações oculares na cirurgia refrativa personalizada e para diagnóstico, estadiamento e avaliação do tratamento realizado no ceratocone. Neste artigo, abordaremos alguns conceitos básicos que lhe ajudarão a compreender melhor esse exame, e comentaremos também sobre os diferentes tipos de aberrometria disponíveis.
A luz se propaga uniformemente a partir de um ponto luminoso na mesma velocidade em todas as direções. Sua posição em determinado momento é uma esfera formada juntando-se todos os pontos em uma mesma fase e tendo como centro a sua própria fonte. Tais superfícies esféricas imaginárias chamam-se frentes de luz ou frentes de ondas. Há três fatores limitadores de detalhes mais finos para o olho humano: óptico (por causa da dispersão, difração, aberração cromática e aberração monocromática), retiniano e neural (limitação máxima de acuidade visual de aproximadamente 2,0 ou 20/10). Um sistema de equações matemáticas, denominado Polinômios de Zernike, pode definir superfícies geométricas para descrever aberrações ópticas monocromáticas, tanto as de baixa ordem (‘prisma’, ‘esfera’ e ‘astigmatismo’), quanto às de alta ordem (‘coma’, ‘aberração esférica’ e outros). A medida das aberrações ópticas nos dá informações sobre o desempenho total de todos os elementos ópticos do olho em conjunto. 1
As aberrações ópticas são decompostas matematicamente, sendo os polinômios de Zernike a forma mais popular, pois as aberrações de ordem baixa correspondem aos termos da refratometria esfero-cilíndrica tradicional (astigmatismo e desfoco [miopia e hipermetropia]).2
Frits Zernike (1888-1966), matemático holandês e ganhador do Prêmio Nobel em 1953, desenvolveu um sistema de equações matemáticas que definem superfícies geométricas para descrever aberrações ópticas – polinômios de Zernike, em que cada polinômio representa uma determinada forma geométrica. Esses polinômios, bastante complexos, hoje em dia já bem estabelecidos na óptica técnica e fisiológica, são um modo eficiente de representar as alterações de forma, ou aberrações de frentes de ondas no olho humano. Cada polinômio representando uma aberração isolada típica, permite definir desfoco (C4 ) ou ‘esfera’ e astigmatismo (C3 e C5 ) ou ‘cilindro’, bem como outras aberrações de ordem mais alta.1
Polinômio de Zernike
Tipos de aberrometria ocular
Hoje existem diversos exames de aberrometria disponíveis. Entre eles, podemos citar:
- O aberrômetro baseado na Topografia de Disco de Plácido (Aberrômetro Topolyzer), que mede as aberrações da córnea anterior.
- O aberrômetro oriundo da Tomografia do Pentacam (Aberrômetro Oculyzer), que avalia as aberrações da córnea anterior, posterior e da córnea total.
- O aberrômetro da Óptica Total (Aberrômetro Analyzer), Sensor de Frente de Onda Hartmman-Shack, que avalia as aberrações oculares da óptica total.
Aberrometria da Córnea da Topografia de Disco de Plácido – Topolyzer
A aberrometria da Topografia de Disco de Plácido (Aberrômetro Topolyzer) mede as aberrações da córnea anterior.
Enquanto as córneas normais apresentam simetria, com pouca descentração e poucas irregularidades, a córnea com ceratocone apresenta assimetria, maior descentração e maiores irregularidades.
Aberrometria da Córnea da Tomografia Pentacam – Oculyzer
A aberrometria da Tomografia do Pentacam (Aberrômetro Oculyzer) mede as aberrações da córnea anterior, posterior e da córnea total, fornecendo os dados das aberrações de alta ordem, representadas nos Mapas de Zernike.
Aberrometria da Óptica Total – Sensor de Frente de Onda – Analyzer
A aberrometria da Óptica Total, analisada com o Sensor de Frente de Onda Hartmman-Shack do Aberrômetro Analyzer, mede as aberrações da óptica total, incluindo as aberrações da córnea e as aberrações internas.
A tecnologia de frentes de ondas oferece uma nova maneira de quantificar e classificar os erros de imagem óptica do olho humano.
A posição de cada feixe projetado na retina é identificado para reconstruir o diagrama de pontos da retina (RSD), fornecendo uma visualização da função de espalhamento do ponto. Dentro de um olho sem aberrações ópticas, todos os pontos convergiriam para o centro do RSD. O desvio de cada ponto é calculado para reconstrução da frente de onda de acordo com os polinômios de Zernike sob a forma de elevação (micra) de RMS (Root Mean Square).
A partir dos termos de baixa ordem (segunda ordem, Z2), é possível determinar os componentes esfero-cilíndricos em dioptria. A zona óptica de 4mm é classicamente utilizada para cálculo da autorrefração dos aberrômetros.2
Em conclusão, a tecnologia de frentes de ondas oferece uma nova maneira de quantificar e classificar os erros de imagem óptica do olho humano. Muitos ensaios clínicos com esta técnica estão sendo efetuados em vários centros de pesquisa nacionais e internacionais e em breve nos darão a relevância clínica e terapêutica de modificação cirúrgica de erros de frentes de ondas. 1
Referências
- JANKOV, Mirko et al. Wavefronts and the limits of human vision Part 1: fundamentals. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 65, p. 679-684, 2002.
- AMBRÓSIO JUNIOR, Renato et al. Impacto da análise do” wavefront” na refratometria de pacientes com ceratocone. Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 69, p. 294-300, 2010.