Pterígio ou “carne no olho”: causas, tratamentos e cuidados pós-operatório

Todos nós já vimos ou conhecemos algum familiar ou amigo que possui aquela “carne” ou “pele” nos olhos. Pois bem, essa lesão se chama pterígio e é umas das doenças oculares mais comuns no dia a dia do consultório do médico oftalmologia. Mas, o que é o pterígio? 

O “famoso” pterígio (do grego “pequena asa”) é um tecido fibrovascular proveniente da conjuntiva, geralmente triangular, que cresce na superfície dos olhos em direção à córnea. 

O pterígio tem origem multifatorial, como por exemplo exposição dos olhos à luz do sol, traumas de repetição, histórico familiar, idade, inflamações crônicas e ser do sexo masculino (devido à maior exposição solar). Os raios ultravioleta estimulam a produção de células inflamatórias na superfície ocular, gerando aumento do estresse oxidativo e liberação de fatores de crescimento do epitélio da conjuntiva.  

Quão comum é essa lesão?

O pterígio é uma doença bastante comum, acometendo cerca de 11% das pessoas em todo o mundo e tem uma maior prevalência nos países que se encontram entre os trópicos, devido à maior exposição solar, como é o caso do Brasil. 

Estudos epidemiológicos apontam uma maior prevalência em trabalhadores rurais quando comparados às outras profissões, devido às atividades que esses trabalhadores desenvolvem em ambiente externo durante o dia.  

Sintomas do pterígio

A maioria dos pacientes não apresenta nenhuma queixa nos estágios iniciais do pterígio, e quando apresentam, as principais queixas são de olho vermelho, olho seco, sensação de areia nos olhos (sensação de corpo estranho), sensibilidade aumentada à luz, lacrimejamento e irritação ocular. 

A insatisfação estética também é uma queixa bastante comum na consulta oftalmológica. Se o pterígio for grande e estiver próximo  ao centro da córnea, configurando casos avançados, pode haver prejuízos à visão por bloqueio da passagem da luz. 

Além disso, o pterígio pode ocasionar o desenvolvimento de graus variados de astigmatismo, em decorrência de irregularidade na curvatura da córnea, causando embaçamento na visão e eventual necessidade de óculos.

Estadiamento da lesão

Existem graus variados de pterígio, a depender da extensão do acometimento corneano. Isso vai influenciar os sintomas e a indicação cirúrgica do paciente.

O grau 1 ocorre quando temos um tamanho de até 2 mm de acometimento da córnea; já no grau 2, a lesão invade a córnea em 2 a 4 mm; o grau 3 compreende de 4 a 6 mm; e quando maior que 6 mm, temos o grau 4.

Pterígio Grau 4
Pterígio grau 4. Fonte: TamarFerhad. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Figure_1A_-_before_P.E.R.F.E.C.T._for_Pterygium_Surgery.jpg

Tratamento do pterígio

Muitas pessoas, ao se olharem no espelho, podem se assustar com essa “pele” no olho, porém não há motivos para preocupação: o pterígio é uma doença benigna, que nos casos mais assintomáticos e graus iniciais podem ser apenas observados e tratados com colírios de lágrimas artificiais para atenuar os sintomas, além de anti-inflamatórios hormonais ou não-hormonais em casos selecionados. 

Em pacientes que apresentam crescimento do pterígio e queixas de desconforto intenso, pode ser indicada cirurgia para retirada da lesão. As principais indicações cirúrgicas são:

  • Diminuição da visão;
  • Desconforto intenso;
  • Acometimento de eixo visual;
  • Astigmatismo irregular;
  • Alteração da motilidade ocular;

Cirurgia para pterígio e possibilidade de recidiva

Existem algumas técnicas cirúrgicas que podem ser realizadas, porém todas elas se baseiam na retirada da cabeça e do corpo do pterígio. A boa notícia é que as cirurgias de retirada do pterígio são relativamente simples, com pouco ou nenhum risco à visão. 

Porém, é fundamental o paciente estar ciente da possibilidade de recidiva, mais comum a depender de fatores genéticos, ambientais (como manutenção da exposição solar) e da técnica cirúrgica utilizada. 

Por exemplo, quando se retira a cabeça e corpo do pterígio e se deixa a esclera “nua”, isto é, exposta, temos uma maior taxa de recidiva. Em contrapartida, quando se realiza a técnica do transplante autólogo de conjuntiva, obtém-se as menores taxas de retorno da lesão. Neste procedimento cirúrgico, após a retirada do pterígio realizamos o transplante de uma conjuntiva saudável, que pode ser da região superior ou inferior do olho.

Geralmente são dados alguns pontos no olho, para fixar bem o transplante no leito receptor. Estes pontos  são mantidos no olho do paciente por 10 a 15 dias após a cirurgia. Para o maior conforto dos pacientes, existe uma cola cirúrgica que pode ser utilizada durante a cirurgia para “colar” o transplante no lugar certo, sem precisar dar pontos e proporcionando maior conforto no pós-operatório.

Os cuidados pós-operatórios são fundamentais

Mesmo realizando a cirurgia e utilizando as técnicas cirúrgicas mais avançadas e seguras, existe ainda a chance de que o pterígio volte. Por isso, alguns cuidados que o paciente deve tomar após a cirurgia são importantes. Por exemplo, evitar a exposição dos olhos ao sol é uma das mais recomendadas, utilizando sempre que possível óculos escuros com proteção contra os raios ultravioleta. 

Como em qualquer cirurgia, existem sempre riscos de complicações, que são raras, porém devem ser sempre orientadas, tais como cicatrizes na córnea, persistência do astigmatismo, afinamento da córnea e perfuração.

A cirurgia de pterígio é moderna e segura, e tem baixa taxa de recorrência. Se você tem um pterígio, procure o seu oftalmologista para maiores orientações.