5 mitos sobre os colírios de nafazolina

Última atualização em 10 de fevereiro de 2024 por

Famosos pelo característico frasco azul e tampa branca, os colírios vasoconstritores têm seu uso amplamente difundido no Brasil até os dias de hoje. Até porque seus principais representantes nas farmácias são de origem nacional e há mais de um século que eles já circulam no mercado. Outro fator importante para sua ampla disponibilidade vem do fato de serem utilizados para tratar uma queixa oftalmológica bastante comum: o olho vermelho.

Mas o que é exatamente o olho vermelho? É o aspecto gerado pela dilatação das centenas de vasos sanguíneos da conjuntiva (a membrana que reveste externamente o globo ocular).

Quando surgiu os colírios de nafazolina?

Para tentar tratar esse sintoma, em meados da década dos anos 20, o oftalmologista Dr. José Cardoso de Moura Brasil lançava uma nova formulação: o colírio que tinha como princípio ativo o cloridrato de nafazolina – além de outros compostos, como o sulfato de zinco, o borato de sódio e o ácido bórico. 

Tal substância atua ativando receptores do tipo “adrenérgicos alfa 1”, os quais estão distribuídos em várias estruturas do organismo humano, incluindo os vasos sanguíneos. Nestes, o resultado final é de vasoconstrição, ou seja, o calibre dos vasos diminui. E aí fica fácil entender a utilidade do colírio quando falamos em olho vermelho.

A partir de sua criação, vários anúncios foram veiculados para difundir os benefícios do uso dos colírios de nafazolina. Isso na época em que as propagandas para remédios praticamente não tinham regulação. 

A promessa era de olhos branquinhos em poucos minutos. De forma geral, tal proposta é cumprida sem oferecer maiores riscos se o uso for feito na quantidade correta, por um curto período de tempo. Mas apesar de terem conquistado grande sucesso nas bancadas das farmácias, muitas pessoas ainda fazem uso dessas medicações sem entender ao certo quais são os seus verdadeiros benefícios e riscos.

Quais são os principais mitos do colírios de nafazolina?

Colírios de Nafazolina são bons para tratar conjuntivite e ciscos no olho

O tratamento dessas duas condições baseia-se no uso de dois tipos principais de colírios: lubrificantes e/ou antibióticos. E a nafazolina não exerce qualquer um desses efeitos, contrariando a crença popular. Na realidade o seu uso apenas disfarça o olho vermelho provocado por essas condições, podendo gerar atraso na procura da assistência médica adequada. 

Isso, por sua vez, pode gerar desdobramentos graves. No caso de um cisco no olho que é retirado com muito atraso, por exemplo, o paciente pode até desenvolver um quadro gravíssimo de úlcera de córnea, o qual muitas vezes prejudica permanentemente a visão.

Colírios de Nafazolina não causam efeitos colaterais

Esse é, provavelmente, o maior mito relacionado a esse tipo de colírio. O principal efeito colateral relacionado a eles é o chamado efeito rebote. Este acontece devido à resposta do organismo em tentar gerar uma vasodilatação em resposta ao estímulo da constrição provocada pela nafazolina. Quando o efeito da medicação cessa, prevalece a dilatação. 

O efeito costuma ocorrer de maneira discreta e transitória quando o uso do colírio é feito por pouco tempo. Mas seu uso crônico pode levar os olhos a ficarem persistentemente vermelhos, com vasos muito calibrosos e tortuosos. É o que já foi descrito, por exemplo, num artigo publicado no JAMA, em que se evidenciou quadros de conjuntivite secundários ao uso de vasoconstritores tópicos (nafazolina, fenilefrina ou tetraidrozolina) em 137 olhos estudados. 

A mediana do tempo de uso do colírio entre os participantes era de 3 anos (com frequência diária) e após a sua suspensão, o quadro levou até 24 semanas para ser resolvido. Situação semelhante ocorre no uso de vasoconstritores nasais, em que a cronicidade da aplicação pode levar à clínica de rinite medicamentosa.

Também são possíveis efeitos colaterais que merecem ser ressaltados: a dilatação da pupila (afinal a nafazolina atua na via simpática, a mesma ativada pelo corpo em situações de luta ou fuga) e a elevação da pressão intraocular.

Vários outros efeitos adversos sistêmicos também são possíveis e ocorrem em especial se houver uso de doses cavalares em curtos períodos de tempo. Principalmente nos casos em que há ingestão do colírio por crianças pequenas. Nessas ocasiões há risco de elevação intensa da pressão arterial, cursando em seguida com lentificação dos batimentos cardíacos e isquemia de órgãos vitais.

Colírios de Nafazolina podem ser usados livremente na gestação

Na realidade, os colírios com nafazolina são classificados como categoria C para uso na gestação. Esse grupo reúne as medicações que ainda não possuem estudos adequados em mulheres gestantes e que em experiências animais ocorreram alguns efeitos colaterais no feto. 

Um estudo recente não mostrou efeito teratogênico (de malformações em recém-nascidos) em mães que utilizaram o colírio no 1º trimestre gestacional. Mas as evidências científicas atuais ainda não permitem afirmar que seu uso é seguro nesse período.

Colírios de Nafazolina não possuem contraindicações

Mais um grande equívoco. Pacientes que utilizam o colírio, mesmo que de forma esporádica, devem se atentar bastante a este tópico. Ele é contraindicado em pessoas com glaucoma de ângulo estreito, usuários de inibidores da monoamina oxidase (ex.: selegilina, tranilcipromina – muito utilizados para o tratamento de depressão e ansiedade), ou caso haja alergia aos componentes da medicação.

Colírios de Nafazolina podem ser utilizados mesmo durante o uso de lentes de contato

Mito também! O recomendado é tirar as lentes antes da instilação e somente recolocá-las a partir de 15 minutos após. Um dos principais motivos é o risco de dano às lentes de contato gelatinosas por algumas das substâncias presentes na formulação dos colírios.

REFERÊNCIAS

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