Cirurgia de catarata: considerações sobre o pré-operatório

O aumento da expectativa de vida como consequência do avanço da medicina e da mudança de hábitos da população traz consigo também o aumento da incidência de afecções relacionadas diretamente à senescência, sendo a catarata uma grande representante. Por isso, é fundamental explicar como funciona a cirurgia de catarata e as recomendações do pré-operatório.

Antes de mais nada, o que é catarata?

Sendo a principal causa de cegueira na população mundial, a catarata tem fortes impactos não somente na qualidade de vida das pessoas, mas também em aspectos econômicos da sociedade. Diante desse tema, é necessário analisar essa patologia sobre os seguintes pontos de vista: a explicação fisiopatológica do seu surgimento, o entendimento da técnica cirúrgica para o seu tratamento e a importância dos exames pré-operatórios para a eficiência da terapêutica e para minimizar complicações e efeitos adversos.

Quais são as causas da catarata?

Para iniciar o tema, é imprescindível compreender o processo fisiopatológico do surgimento de uma catarata. O cristalino é uma lente intraocular que atua como um dos meios ópticos que direcionam os raios luminosos que chegam aos nossos olhos para serem focalizados sobre a retina. Uma das suas principais funções é, através da contração reflexa dos músculos ciliares presentes no meio intraocular, de mudar o seu formato e dessa forma ajustar a focalização da luz conforme olhamos para diferentes distâncias, sendo esse reflexo chamado de acomodação. Ao longo da vida e do natural processo de envelhecimento, o cristalino vai passando por modificações estruturais e consequentemente, perdendo sua capacidade de mudar seu formato e exercer o reflexo acomodativo – a chamada “vista cansada” ou presbiopia. Além disso, com o passar do tempo, sofre também um processo de opacificação, surgindo assim a catarata.  Meios opacos dificultam a passagem de raios luminosos através do olho, portanto, a principal consequência de uma catarata é a diminuição da acuidade visual.

Como é a cirurgia de catarata?

Diante de uma patologia relacionada a opacificações do meio óptico, o tratamento constitui a remoção do cristalino opaco e o implante de uma nova lente intraocular (LIO) transparente com poder óptico capaz de direcionar a luz sobre a retina, técnica cirúrgica chamada de facectomia. Atualmente, duas técnicas cirúrgicas têm sido amplamente utilizadas nesse sentido: a primeira, chamada de facectomia extra-capsular (FEC), consiste na remoção do cristalino por inteiro através de uma incisão escleral-corneana mais extensa; a segunda, chamada de facoemulsificação (FACO), consiste na fragmentação do cristalino através de movimentos de uma ponteira em frequência de ultrassom e, por consequência, demanda incisões corneanas consideravelmente menores que a técnica anterior, o que proporciona a manutenção da anatomia ocular e da pressão intraocular, sendo portanto a técnica de preferência nos dias atuais. Entretanto, devido aos movimentos da ponteira e da geração de calor ocasionada por eles, há uma perda maior da células endoteliais corneanas se comparada à FEC.

Quais são os cuidados pré-operatórios da cirurgia de catarata?

Os cuidados pré-operatórios são essenciais para o reestabelecimento da visão de maneira eficiente e para evitar complicações intra- e pós-operatórias. Nesse sentido, a tecnologia desenvolvida se torna uma grande aliada do médico oftalmologista. Primeiramente, é essencial a realização de um bom exame clínico com aferição de acuidade visual corrigida, exame biomicroscópico, tonometria e fundoscopia, com objetivo de classificar a catarata, quantificar o tamanho da dilatação pupilar, identificar condições que aumentem o risco de complicação e diagnosticar patologias que possam influenciar diretamente no prognóstico visual.

Para melhor programação cirúrgica, a ecobiometria se torna fundamental, pois ao calcular variaríeis que influenciam diretamente no grau final do paciente após o implante da LIO, possibilita a escolha da melhor dioptria da LIO de forma individualizada, sendo responsável por refinar o resultado pós-operatório da facectomia.

Outro exame de importância impar é a microscopia especular da córnea (MEC), exame que analisa e promove a contagem das células endoteliais corneanas que possuem a função de deturgecência corneana, ou seja, de retirar o “excesso” de água do interior da córnea e assim mantê-la transparente; a córnea edemaciada perde sua transparência, comprometendo, por conseguinte, a passagem da luz. Durante a facoemulsificação, há uma perda esperada de células endoteliais. E dependendo do montante perdido e de fatores de risco prévios, este procedimento cirúrgico pode acarretar em uma descompensação corneana pós-operatória, prejudicando a recuperação ocular e resultando, em alguns casos, em qualidade visual final abaixo das expectativas geradas. Portanto, o estudo da córnea por microscopia especular anteriormente ao ato cirúrgico constitui importante fator de decisão do cirurgião sobre risco/benefício do procedimento, melhor técnica cirúrgica a ser realizada e orientação adequada do paciente quanto ao prognóstico, alinhando expectativas.

A ultrassonografia ocular constitui outro recurso de avaliação, especialmente em cataratas mais densas e opacas que impossibilitam a visualização do fundo de olho. Este exame possibilita ao examinador conhecer melhor a estrutura do globo ocular que está posterior à catarata, atentando-se à integridade retiniana e à presença de processos inflamatório e/ou hemorrágicos no humor vítreo. Além disso, participa do processo de ecobiometria quando, devido à opacidade dos meios, a biometria óptica se torna inviável.

Dessa forma, conclui-se que, com avanço da expectativa de vida, cada vez mais a facectomia torna-se fundamental para o reestabelecimento funcional do indivíduo na sociedade, uma vez que a catarata é uma realidade do envelhecimento populacional. Sendo assim, para melhores resultados cirúrgicos, a avaliação pré-operatória bem feita constitui um dos grandes pilares para a boa prática oftalmológica. A união do exame clínico minucioso com a tecnologia de exames complementares bem indicados, possibilita ao cirurgião otimizar a programação cirúrgica e estabelecer um melhor relacionamento médico-paciente, tomando, assim, as condutas médicas mais apropriadas para a saúde ocular de seus pacientes.

E, caso tenha dúvida sobre a cirurgia de catarata, não deixe de consultar o oftalmologista.