Crianças e telas: como essa relação prejudica a saúde ocular?

Crianças e telas é uma relação que atinge a população pediátrica de maneira crescente e cada vez em idades mais jovens. Porém foi durante a pandemia de coronavírus, que chegou ao Brasil em 2020, que ela fugiu ao controle de muitos pais. Isso porque, além do isolamento social e menor acesso a atividades ao ar livre, muitas escolas transferiram suas atividades para o modo online, obrigando as crianças a continuar seus estudos através do computador. 

De acordo com o monitoramento mundial das Instituições de Ensino realizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), até 20 de abril de 2021, a suspensão das aulas como resposta ao Covid-19 havia impactado mais de 174 milhões de estudantes em todos os níveis de ensino. Ainda segundo o monitoramento supracitado, países em diferentes continentes retomaram suas atividades no sistema educacional apenas no primeiro semestre do ano de 2022. 

Os sintomas oculares associados ao uso excessivo do computador podem ser divididos em dois grupos: os relacionados a superfície ocular, como ressecamento, vermelhidão, lacrimejamento e ardência, e os relacionados ao esforço visual binocular responsável pelo foco visual para perto, o esforço acomodativo, como cansaço visual, embaçamento, dor de cabeça e visão dupla. 

Outro fator que ganhou relevância foi o aumento dos casos de miopia em crianças e adolescentes. A mudança de grau em crianças mais jovens, entre 6 a 8 anos, parece ser ainda mais sensível às mudanças ambientais, visto que estão em um período importante para o desenvolvimento de miopia. Além disso, demonstrou-se que passar mais tempo ao ar livre durante a infância diminui o risco do desenvolvimento de miopia e pode atrasar sua progressão em crianças e adolescentes. A duração e a intensidade das atividades próximas aos olhos também estão associadas à progressão de miopia

Além do uso excessivo dos dispositivos digitais, as crianças estão trocando o computador de mesa por telas menores como smartphones e tablets e adotam uma distância mais próxima dos olhos, intensificando ainda mais o esforço visual binocular e contribuindo com a gênese da miopia. 

Crianças e telas: qual é o período indicado?

Para além dos malefícios aos olhos e visão, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta sobre o efeito do excesso de telas em relação à transtornos do sono, transtornos de humor, transtornos de alimentação, sedentarismo, transtornos auditivos, posturais e psicológicos. 

A recomendação da SBP quanto ao uso de telas por faixa etária é que: 

• Crianças abaixo de 2 anos devem evitar totalmente a exposição, mesmo que passiva; 

Entre 2 e 5 anos podem ser expostos no máximo uma hora por dia

Entre 6 e 10 anos, a exposição não deve passar de 2 horas por dia

De 11 a 18 anos, recomenda-se o máximo de 3 horas por dia diante das telas. 

Em crianças abaixo de 10 anos orienta-se que a exposição seja sempre supervisionada, e para todas as idades deve-senevitar o uso de telas durante refeições, assim como evitar o isolamento em seus quartos sozinhos com os dispositivos eletrônicos, além de oferecer alternativas como atividades esportivas, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza. 

É inevitável o convívio da população pediátrica com o meio tecnológico para muito além da pandemia de COVID-19, tanto para fins escolares quanto para lazer. Desta forma, é necessário a atenção dos pais e cuidadores para que a exposição às telas digitais seja de forma saudável e seu excesso seja evitado. Uma vez que as crianças, especialmente as mais jovens, não se queixam de forma tão ativa quanto os adultos, devemos ficar alertas aos sintomas provocados pela exposição ocular digital e tomar medidas preventivas ativamente. Com o objetivo de reduzir o esforço visual, é indicado afastar os computadores dos olhos idealmente à uma distância de 50,0 à 63,5 cm e pode-se aplicar a regra proposta pela Associação Americana de Optometria, na qual a cada 20 minutos de uso de tela, deve-se fazer um intervalo de 20 segundos para olhar a uma distância de 6 metros. Outra medida eficaz é fazer o uso de telas com a correção óptica adequada – ou seja, utilizar óculos com o grau adequado, caso necessário – e realizar a lubrificação dos olhos, pois o olho seco mesmo em casos leves tem uma influência substancial para o conforto no uso de telas. 

Agende uma consulta com o oftalmologista e tire suas dúvidas sobre a relação entre crianças e telas.

Referências: 

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do MEC em resposta à pandemia de COVID-19. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=183641-ebook&category_slug=2020&Itemid=30192 

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