Última atualização em 10 de fevereiro de 2024 por
As doenças da córnea representam 5% dos casos de cegueira reversível em todo o mundo. Condições como ceratopatia bolhosa, ceratocone, tracoma, distrofia de Fuchs e ceratites infecciosas podem levar a danos oculares significativos aos pacientes se não forem tratadas adequadamente. Essas enfermidades têm o potencial de acarretar impactos biopsicossociais graves, incluindo perda de produtividade, redução da qualidade de vida, comprometimento cognitivo, dependência de familiares, depressão, isolamento social e até mesmo suicídio.
Considerando essa realidade, o transplante de córnea (TC) surge como uma solução eficaz para diversas doenças do órgão. No entanto, em escala global, a procura tem aumentado, em oposição à escassez de doadores. De acordo com o Dr. Glauco Aquino, gerente do time médico da Eyecare Health, “transplantes de córnea podem ser necessários para o tratamento de diversas patologias, com finalidades diferentes. Grande parte desses problemas que levam à necessidade de cirurgia são preveníveis, ou pelo menos podem ter sua progressão para quadros graves evitada, se diagnosticados e tratados precocemente”. O Dr. Glauco aponta ainda que “o ceratocone, por exemplo, é uma das grandes causas de transplante de córnea no Brasil. Constitui um afinamento e protrusão progressivos da córnea, deixando-a em formato “pontudo” que, em casos avançados, pode evoluir com ruptura das camadas corneanas e opacidade total do tecido”.
No Brasil, a fila de espera por um transplante de córnea também tem registrado um aumento significativo ao longo dos anos. Em 2019, eram cerca de 12 mil pessoas aguardando pelo procedimento e, atualmente, esse número mais que dobrou, chegando a 25.507 pessoas, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). “Os transplantes corneanos podem ser de espessura total (quando toda a córnea é trocada) ou parcial (quando apenas uma das camadas da córnea é modificada). A indicação depende da causa, gravidade e localização da opacidade”, completa o Dr. Glauco. Acompanhe no infográfico abaixo.
Segundo o Relatório de Transplantes realizado no Brasil | Evolução 2001-2021, publicado pelo Ministério da Saúde (MS), com base em dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e Sistema Informatizado do Ministério da Saúde – SNT/ CETs – Centrais Estaduais de Transplantes/ INCA/ TabWin, o volume de transplantes de córnea não retornou aos níveis pré-pandemia da Covid-19, resultando em um total menor de intervenções realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em comparação com a década passada. Em 2020, período de maior impacto da pandemia, a série histórica registrou seu pior desempenho com 7.348 cirurgias de transplantes de córnea — algo esperado diante da emergência sanitária global — mas, desde então, mesmo com a retomada das cirurgias, os números ainda continuam abaixo dos anteriores.
Para complementar, um levantamento feito pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), com base em dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) mostra que, entre 2012 e 2022, foram feitos cerca de 86 mil transplantes de córnea no Brasil nos hospitais da rede pública. No entanto, há uma concentração dos procedimentos na região Sudeste, que responde por 46% do total. Em seguida estão o Nordeste (25%); Sul (13%); Centro-Oeste (9%); e Norte (5%).
As localidades que possuem mais centros transplantadores públicos têm melhor desempenho. No Brasil, 24 estados possuem pelo menos um Banco de Tecidos Oculares na rede pública. Acre, Amapá e Roraima são os três locais sem um centro. São Paulo, por exemplo,com nove unidades, responde por um terço dos transplantes de córnea no período analisado (29,9 mil intervenções entre 2012 e 2022). Em seguida, estão Pernambuco (5.770), Minas Gerais (5.696), Paraná (4.946) e Ceará (4.727). Na outra extremidade, estão Tocantins (145), Acre (237), Rondônia (569), Alagoas (625) e Paraíba (1.115).
É visível que estudos epidemiológicos são essenciais para mapear a situação da oferta e demanda de transplantes de córnea no Brasil. As pesquisas permitem identificar deficiências e desafios a serem superados, além de destacar a importância da notificação de potenciais doadores, logo, a discussão de estratégias para aumentar a conversão desses doadores para efetivos é fundamental para reduzir as filas de espera por transplante de córnea. Além disso, é possível adotar estratégias de prevenção. “O acompanhamento com médico oftalmologista desde a infância e os cuidados diários com os olhos são fundamentais para manter a saúde visual em dia e evitar complicações”, finaliza o Dr. Glauco.