Olho furado: e agora?

Talvez um dos quadros mais graves da oftalmologia, o olho furado gera grandes riscos, havendo inclusive sequelas permanentes em muitos dos casos. 

É certo que a prevenção é a maior arma do arsenal oftalmológico contra esses acidentes. Por isso, o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) adequados e a não exposição a situações de risco devem ser sempre priorizados. 

Em grande parte das vezes a perfuração é resultado de uma agressão ou de um acidente ocupacional, ganhando destaque os trabalhos na construção civil. Portanto, muito cuidado!

Muitas dúvidas cercam esse tipo de trauma. E hoje a Eyecare Health busca responder pra você boa parte delas. Começando pela primeira e mais importante, que pode ter sido o motivo de você procurar este artigo:

Fui vítima de uma perfuração ocular. Quais são as medidas iniciais a serem tomadas?

1. Não coloque ou retire nada do olho! 

A instilação de qualquer colírio, soro ou até mesmo água pode ser o fator chave para a entrada de microorganismos causadores de infecção, o que torna o quadro muito mais complicado. Por outro lado, a tentativa de retirada de corpos estranhos do olho pode acabar gerando o extravasamento de conteúdo intraocular, o que também pode ser bastante grave.

2. Proteja o olho com curativo NÃO oclusivo! 

Um pequeno copo descartável de café colado com micropore sobre o olho é suficiente para te lembrar de não realizar as ações citadas anteriormente. E por que o curativo não pode ocluir totalmente o olho? Porque um ambiente escuro, morno e cheio de secreções (sangue, lágrima, suor, etc) é também um grande estimulador para a proliferação de bactérias. 

3. Procure com urgência um pronto-socorro oftalmológico!

Em grande parte dos casos, há a necessidade de cirurgia. E mesmo antes dela ocorrer, é somente dentro de um hospital que várias medidas essenciais podem ser tomadas, como a realização de um exame de imagem do crânio e órbitas e a prescrição de antibióticos administrados por via intravenosa.

Vale lembrar que caso o acidente que causou a perfuração ocular também envolva dano a órgão vitais, antes de tudo é crucial procurar um pronto-socorro clínico-cirúrgico! Afinal de nada adianta pensar em salvar o olho, se a sobrevivência do paciente estiver em cheque. Um exemplo são os politraumas causados por agressões, nos quais muitas vezes também ocorre trauma cranioencefálico importante.

Ufa! Agora sim, vamos às outras dúvidas.

Qual tipo de cirurgia é indicado?

Depende! Haverá pacientes nos quais a extensão do dano não comprometerá a possibilidade de manter o globo ocular. Em outros, a retirada do olho será necessária. 

No primeiro grupo, a cirurgia consiste em dar pontos para reconstruir a área lacerada: seja a córnea (parte transparente do olho) ou a esclera (parte branca). Caso haja lesão do cristalino (uma lente natural que fica por trás da pupila, onde se instala a catarata), também é necessário removê-lo, requerendo uma cirurgia futura para implantar uma lente artificial dentro do olho. 

Além disso, cabe mencionar outro caso no qual uma segunda abordagem é necessária: quando há algum corpo estranho intraocular. Nessas situações, uma equipe especialista em retina é convocada para fazer uma cirurgia mais complexa chamada vitrectomia. 

Para o grupo de pacientes no qual o dano compromete a viabilidade do globo, as opções de tratamento são muito mais invasivas. Uma delas é a evisceração, que consiste em retirar a córnea e todo o conteúdo intraocular, restando apenas a esclera e a membrana que a recobre. 

Outra é a enucleação, na qual se retira inclusive essas duas últimas estruturas. Nesses casos mais invasivos existe a possibilidade de, futuramente, adaptar uma prótese com finalidade estética.

Alguns casos podem ser tratados sem cirurgia?

Sim! Porém são eles menos comuns. Quando a córnea sofre uma laceração pequena, é possível que ela cicatrize espontaneamente, sem a necessidade de pontos cirúrgicos. 

Em alguns casos o uso de uma lente de contato pode ser suficiente para manter o conteúdo intraocular no lugar até que essa cicatrização aconteça. 

Além disso, pequenos rasgos na conjuntiva (pele que recobre o olho externamente e fica avermelhada na conjuntivite) podem também receber tratamento clínico.

A pessoa pode voltar a enxergar como antes?

Depende. Existe um leque muito grande de desfechos possíveis, mas via de regra é esperado uma sequela visual – que pode ser leve ou pode levar à cegueira total. 

A visão logo após o trauma é um importante preditor de como ficará a visão depois da cirurgia na urgência. Afinal, é importante entender que nesse primeiro momento a prioridade é fechar o globo ocular – e não o retorno da visão. 

Futuramente, a possibilidade de melhora dependerá de quais foram as estruturas oculares lesionadas no acidente. Um transplante de córnea ou a colocação de uma lente intraocular, por exemplo, são procedimentos que podem melhorar significativamente a visão de alguns pacientes. Outros terão sequelas permanentes devido ao dano a estruturas nobres e insubstituíveis do olho.

Por isso, use óculos de proteção! Passe longe de situações de risco! Pequenos vacilos podem custar muito caro à sua saúde visual.

Referências:

1. The Wills Eye Manual: Office and Emergency Room Diagnosis and Treatment of Eye Disease, 8th edition.