Quais são os efeitos das doenças reumatológicas para os olhos?

Os olhos e a visão podem ser afetados por inúmeras doenças do corpo. As doenças reumatológicas autoimunes – como o lúpus e a artrite reumatoide – são importantes exemplos dessas condições que podem comprometer a saúde ocular

As doenças inflamatórias sistêmicas apresentam diferentes alvos no nosso corpo; entretanto, o olho parece ser um alvo comum para várias dessas condições inflamatórias. 

Existem diversas manifestações possíveis dessas doenças nos nossos olhos (desde olho seco, até inflamação nos vasos da retina e síndromes orbitárias). 

Além disso, eles podem ser também afetados pelo próprio tratamento dessas doenças. 

Dessa forma, o acompanhamento oftalmológico dos pacientes com doenças reumatológicas, mesmo em uso de tratamento adequado, deve ser realizado de forma regular e com bastante atenção.

A seguir, explicaremos mais detalhes sobre o que são essas doenças reumatológicas e suas principais características. Acompanhe! 

Afinal, o que é lúpus eritematoso sistêmico? 

Lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune sistêmica, mais comum em mulheres jovens, que frequentemente acomete a pele, articulações e rins. Outros órgãos também podem ser acometidos, como o sistema nervoso central, os pulmões, o coração e os olhos.

Cerca de 50% dos pacientes com LES apresentam alguma manifestação ocular. As mais importantes são: 

  • Lesões de pele nas pálpebras;
  • Olho seco (Síndrome de Sjogren secundária);
  • Esclerite;
  • Neurite óptica, retinopatia, vasculite e uveíte. 

Gravidade do olho seco 

O olho seco é a manifestação ocular mais comum dos pacientes com lúpus. É uma condição associada ao que chamamos de “Doença da Superfície Ocular”, que além de ser bastante incômoda, pode comprometer a qualidade de vida dos pacientes e gerar prejuízo visual considerável. 

A gravidade do olho seco deve ser cuidadosamente avaliada pelo oftalmologista, para oferecimento do tratamento mais adequado. 

Os efeitos da retinopatia lúpica 

A retinopatia lúpica é a principal manifestação da parte posterior do olho e importante causa de perda da visão nesses pacientes – apesar do olho seco ser a manifestação ocular mais comum, a retinopatia lúpica é a manifestação mais perigosa para a visão. 

Quando o paciente apresenta a retinopatia, o médico oftalmologista é capaz de detectar alterações características no exame da retina (o mapeamento de retina) – como hemorragias intrarretinianas e áreas de isquemia das fibras nervosas (as chamadas “manchas algodonosas”).

 Em grande parte dos casos, tais achados vêm associados a inflamação nos vasos sanguíneos da retina (vasculite) e até oclusão desses vasos. 

Quando o paciente apresenta alguma manifestação oftalmológica da doença, é imprescindível que o médico oftalmologista esteja alinhado com o reumatologista para garantir o tratamento certeiro.

Assim, ambos garantem o controle sistêmico da doença quanto o cuidado com a saúde ocular para evitar sequelas.

O que é artrite reumatoide? 

A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória sistêmica que afeta com maior prevalência mulheres idosas. Além das conhecidas manifestações articulares, a AR está também associada a comprometimento de diversos órgãos, como o pericárdio, pleura, rins e os olhos. 

As principais manifestações oculares são: 

  • Olho seco (assim como no LES, é a manifestação mais comum);
  • Episclerite;
  • Esclerite;
  • Alterações na córnea;
  • Vasculite retiniana. 

A PUK (Ceratite Ulcerativa Periférica) é uma doença da córnea – também vista em associação com outras doenças – mas frequentemente associada a AR (em 34 a 42% dos casos). 

Nessa doença, a periferia da córnea passa a desenvolver importante afinamento – que pode ser tão grave a ponto de gerar perfuração da córnea

Como a esclerite é associada a artrite reumatoide? 

A esclerite associada a artrite reumatoide é uma condição crônica, dolorosa e com potencial de gerar grave sequela visual. 

Ela pode ser classificada em anterior (quando afeta a parte da frente do olho) ou posterior (quando afeta a parte de trás do olho); além disso, esclerites anteriores podem ainda ser classificadas em “com inflamação” ou “sem inflamação”. 

A diferenciação é realizada através de exame oftalmológico completo, às vezes sendo necessário realização de exames complementares (como ultrassonografia ocular). 

Essas duas condições citadas acima são preocupantes e, por isso, qualquer quadro de olho vermelho em pacientes portadores de artrite reumatoide deve ser valorizado e o paciente levado para exame oftalmológico com brevidade. 

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Doenças reumatológicas e medicações causam alterações oculares secundárias: entenda! 

Não só as doenças, mas as próprias medicações utilizadas podem ser ameaças para a saúde ocular. O uso de qualquer medicação, por mais comum que seja, pode cursar com efeitos adversos e efeitos colaterais. 

Corticóides 

O uso de corticoides frequentemente é necessário para o controle dos quadros inflamatórios sistêmicos. 

Apesar de ser uma excelente medicação, os efeitos colaterais são frequentes e bastante conhecidos. 

Nos olhos, o uso dos corticoesteroides (por qualquer via – oral, venosa ou tópica) está associado a aumento da pressão intraocular (principal fator de risco para desenvolvimento de glaucoma) e a catarata. 

Cloroquina/ Hidroxicloroquina 

A Cloroquina e a Hidroxicloroquina são drogas que podem ser utilizadas no tratamento de doenças inflamatórias. 

O uso dessas medicações está associado ao desenvolvimento de opacidades na córnea (córnea verticilata) e maculopatia (doença na área mais nobre na retina). 

A maculopatia pode evoluir com desenvolvimento de baixa visão, escotomas, e defeitos no campo de visão. 

Pacientes que fazem uso dessa medicação devem ser avaliados por médico oftalmologista de forma periódica, já que, a qualquer sinal de toxicidade retiniana, deve ser discutida a suspensão da medicação com a equipe de reumatologia (pelo risco de sequela visual irreversível). 

Isso é especialmente válido para problemas na retina. Mas não se assuste, nem deixe de tomar seus remédios. Acompanhando periodicamente, seus médicos poderão identificar precocemente quaisquer alterações e ajustar o tratamento, se for necessário.

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Conclusão

Você é portador(a) de alguma dessas doenças reumatológicas ou conhece alguém que seja?

Se sim, espero que tenha ficado claro que o acompanhamento oftalmológico é necessário. 

Ademais, nunca negligencie qualquer sintoma ocular – às vezes, coisas que parecem “bobas” são os primeiros sinais de algo mais sério e devem ser avaliados por médico oftalmologista especialista. 

Nesses casos de manifestações oculares de doenças reumatológicas sistêmicas, o médico oftalmologista deve estar sempre alinhado com o médico reumatologista assistente para garantir o tratamento adequado tanto da parte clínica, quanto da parte ocular. 

Próximos passos! 

Esperamos que, até aqui, você tenha entendido tudo sobre doenças reumatológicas. E, caso precise de ajuda, nós podemos auxiliar no seu bem estar visual.

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Deixe a sua saúde ocular em boas mãos!

As informações neste site não têm a intenção de substituir uma consulta pessoal com um oftalmologista.

O leitor não deve desconsiderar aconselhamento médico nem adiar a busca por aconselhamento médico devido a alguma informação encontrada neste blog. 

Procure sempre um oftalmologista para que ele possa lhe auxiliar no seu caso específico.

REFERÊNCIAS

  1. American Academy of Ophthalmology. Basic and Clinical Science Course. Uveitis and Ocular Inflammation. 2020-2021
  2. Ghazala D. O’Keefe, MD, Leo A. Kim, MD, PhD, Rikki Enzor, MD, PhD, Nimesh Patel, MD. Systemic Lupus Erythematosus (SLE). American Academy of Ophthalmology – EyeWiki. [Acessado em 11/03/23 16:30]
  3.  Andrew Go Lee, MD, Jay Babu, Aroucha Vickers, DO. Ophthalmologic Manifestations of Autoimmune Diseases. American Academy of Ophthalmology – EyeWiki. [Acessado em 11/03/23 16:30]