Descolamento de Retina: sintomas, diagnóstico e tipos de tratamento

Descolamento de retina: doença oftalmológica muito temida que pode evoluir para perda irreversível da visão. Neste texto você encontra orientações e sinais de alerta que podem ajudar no diagnóstico precoce da doença.

O que é a retina?

A retina é uma fina camada de tecido, sensível à luz, localizada na parte mais interna do olho. Toda a luz que chega ao interior do olho é captada pela retina e transformada em impulsos elétricos. Estes impulsos são enviados ao cérebro, onde ocorre a formação da imagem. Por ser constituída de tecido nervoso, doenças da retina podem ser graves e, se não tratadas a tempo, podem causar cegueira irrecuperável.

O que é o descolamento da retina?

O descolamento de retina é uma condição que ameaça a capacidade de enxergar alcançando a incidência de 1 caso a cada 10.000 pessoas. Antes da década de 1920, era uma condição intratável, naturalmente evoluindo para a cegueira. Nos anos seguintes, a história da cirurgia de retina surgiu, quando Jules Gonin, um oftalmologista suíço, esclareceu o papel das rupturas retinianas no descolamento de retina.

Apresenta-se como uma emergência na qual a retina encontra-se descolada da sua posição correta. Quando isso acontece, uma parte do tecido do fundo do olho deixa de ter contato com a camada de vasos sanguíneos do fundo do olho, deixando de receber a quantidade adequada de nutrientes e oxigênio, podendo resultar em morte de células, e perda da visão.

O que é o humor vítreo e o descolamento do vítreo posterior?

Para entender por que o descolamento de retina acontece, devemos primeiro compreender a anatomia dos olhos. O vítreo, também chamado de humor vítreo, é um fluido gelatinoso e transparente que ocupa o interior do globo ocular, permanecendo em contato direto com a retina. Com o passar dos anos, o humor vítreo perde sua característica gelatinosa e se torna mais líquido, o que leva a sua separação da retina, conhecido como descolamento do vítreo. O descolamento de vítreo tem alta prevalência na população, e a maioria das pessoas aos 70 anos apresenta algum grau.

Os principais fatores que apresentam associação com o descolamento do vítreo são:

·       Envelhecimento natural do vítreo;

·       Miopia;

·       Traumas oculares;

·       Cirurgias intraoculares (como a cirurgia de catarata);

·       Inflamações ou infecções intraoculares;

·       Traumas oculares;

·       Histórico familiar de descolamento de retina.

Na grande maioria das vezes, o descolamento de vítreo não exige nenhum tratamento específico, visto que pode se tratar de um processo fisiológico. No entanto, em alguns casos, pode provocar “rasgos” na retina. O humor vítreo com características mais fluídicas tende a passar por estes rasgos, invadindo o espaço entre a retina e a parede interna do olho, causando o descolamento de retina.

Quais são os sintomas do descolamento de retina?

Os sintomas de descolamento de retina podem incluir a percepção de corpos flutuantes – pequenos pedaços de detritos no campo de visão que se assemelham a manchas, pelos, aranhas ou moscas que parecem flutuar na frente dos olhos: também conhecidas como “moscas volantes”.

Além disso, a percepção de “flashes de luz” no olho afetado é um sintoma frequente. Outro sintoma comum é a percepção de uma sombra ou cortina no campo visual que vai aumentando à medida que o descolamento progride e finalmente atinge a visão central.

Como identificar um descolamento de retina?

O exame que permite a sua identificação é o mapeamento de retina. Neste exame, através de um instrumento chamado oftalmoscópio, é possível avaliar com precisão as estruturas de dentro do olho, podendo identificar o descolamento de retina propriamente dito, assim como o rasgo que o causou. (Figura 1)

Pacientes com fatores de risco conhecidos para descolamento de retina devem realizar mapeamento de retina com dilatação das vistas, muitas vezes semestral ou anualmente. Óculos de proteção são recomendados para indivíduos com alta miopia que participam de esportes de contato. Pacientes submetidos à cirurgia de catarata devem ser aconselhados sobre a importância de relatar sintomas de rupturas e descolamentos de retina.

Como os sinais de alerta podem evitar um descolamento de retina?

A ruptura (ou rasgo) da retina, é um acontecimento que precede o seu descolamento. O diagnóstico precoce permite o tratamento preventivo do descolamento da retina, por meio da aplicação laser ao redor do rasgo. Durante a sessão de fotocoagulação à laser, a área afetada da retina é circundada com “tiros de laser”, de modo que seja feita uma barreira evitando a evolução do problema.

Qual é o tratamento para o descolamento de retina?

O tratamento para descolamento de retina é sempre cirúrgico. A operação depende do tipo de descolamento, do número de rasgos na retina e de alguns outros fatores.

 As principais cirurgias de descolamento de retina são:

Retinopexia pneumática

Consiste na injeção de gás no interior do olho seguida da fotocoagulação à laser. Sua indicação é muito criteriosa, sendo uma excelente opção nos casos recentes de descolamento de retina com ruptura localizada na região superior.

Retinopexia com introflexão escleral

É o procedimento de colocação de uma banda circular de silicone (como um pneu) ao redor do olho, juntamente com a retirada do líquido que ocasionou o descolamento da retina. Esta banda de silicone tem a finalidade de modificar os vetores de força do interior do olho, bloqueando as rupturas que causaram o descolamento, e assim, permite que a retina retorne na sua posição habitual e “cole”. Após, é realizado a fotocoagulação a laser no local da ruptura.

Vitrectomia via pars plana

É a remoção do humor vítreo seguida da expansão da cavidade interna do olho com ar, que ajuda no reposicionamento da retina. No mesmo ato operatório, também se realiza a fotocoagulação à laser no local da ruptura retiniana. No final da cirurgia, coloca-se gás de longa duração ou óleo de silicone no interior do olho.

É a cirurgia de escolha para casos mais avançados e limítrofes de descolamento de retina. Uma das vantagens de usar o gás nesta operação é a não indução de miopia e o gás ser absorvido após algumas semanas. Já o óleo de silicone pode induzir hipermetropia e é removido após um período de 2-8 meses, caso seja necessário. A desvantagem da vitrectomia é conduzir à progressão mais rápida de catarata no olho operado.

A vitrectomia via pars plana é a operação mais realizada para o tratamento de descolamento de retina atualmente, sendo que 85% dos casos são tratados com sucesso apenas com uma cirurgia e os 15% restantes requerem duas ou mais operações.

A recuperação visual pode demora algumas semanas, e o resultado nem sempre é previsível. Se o descolamento de retina acometer a mácula (região central onde concentram-se a maior quantidade de fotorreceptores e, portanto, a mais nobre da visão), por exemplo, a capacidade de enxergar pode nunca alcançar o que era antes do descolamento.

Por este motivo, a rápida detecção dos sintomas, assim como o diagnóstico precoce, são fatores fundamentais para uma breve intervenção, e consequentemente, melhor resultado visual.

 Referências

1) Haimann MH, Burton TC, Brown CK. Epidemiology of retinal detachment. Arch Ophthalmol. Feb 1982; 100(2):289-92.

2) Go SL, Hoyng CB, Klaver CC. Genetic risk of rhegmatogenous retinal detachment: a familial aggregation study. Arch Ophthalmol. 2005; 123: 1237-41.

3) Gonin J. Treatment of detached retina by searing the retinal tears. Arch Ophthalmol 1930;4:621-625.

4) Lewis H. Peripheral Retinal Degenerations and the Risk of Retinal Detachment. Am J Ophthalmol 2003; 136:155–160.

5) Brucker AJ, Hopkins TB. Retinal Detachment Surgery: The Latest in Current Management. Retina. 2006; 26: S28-S33.