Quem Pode fazer cirurgia refrativa?

A cirurgia refrativa com excimer laser é a modalidade de cirurgia para correção das ametropias (grau de óculos) mais popular e mais realizada mundialmente. Em 2019, das 4,5 milhões de cirurgias refrativas realizadas mundialmente, 3 milhões foram com excimer laser.

A primeira cirurgia refrativa com a técnica de ablação a laser foi descrita em 1980, mas aprovada pela Food and Drug Admnistration (FDA) apenas em 1996. Desde então, a técnica cirúrgica e a tecnologia do laser evoluíram para que esta cirurgia se tornasse mais segura e eficaz. Tão importante quanto, foi o desenvolvimento de novas tecnologias utilizadas na triagem do paciente e na consulta pré-operatória, avaliando diferentes detalhes da córnea, estrutura onde o laser será aplicado. 

Ao longo dos últimos anos diversos estudos foram publicados, avaliando a segurança do procedimento e determinando os limites que devem ser seguidos para evitar complicações durante e após o procedimento. 

Afinal, apesar de ser um procedimento relativamente rápido e que causa pouco desconforto ao paciente, não deixa de ser uma cirurgia oftalmológica, e como tal, tem seus riscos. Portanto, a indicação do tipo e possibilidade de realizar a cirurgia refrativa devem ser precisas, minimizando a chance de problemas.

Mas afinal, como você pode saber se é um candidato para a cirurgia refrativa?

Existem alguns critérios que podem ser separados em tópicos:

1) Qual é a sua motivação para a cirurgia?

2) Quem é você? Qual a sua idade, trabalho, estilo de vida e hobbies? Tem alguma condição em tratamento, alergia, cirurgia prévia, ou está em uso de algum remédio?

3) Qual é o grau dos seus óculos?

4) Seu grau está estável?

5) O seu olho é 100% saudável?

6) Como é a sua córnea?

1) Motivação. 

Inicialmente, é necessário entender qual a sua motivação para realizar a cirurgia. Suas lentes de contato ou óculos lhe atrapalham a rotina, limitam atividades como esportes, causam desconforto e irritação nos olhos ou não agradam esteticamente? Então talvez a cirurgia refrativa seja uma ótima forma de resolver seus problemas.

No entanto, se mesmo com lentes de contato e óculos você não enxerga o quanto gostaria ou está insatisfeito com a necessidade de usar óculos para perto, talvez a cirurgia refrativa não atenda completamente suas expectativas.

O primeiro objetivo da cirurgia refrativa é tornar o paciente independente dos óculos, principalmente para longe, embora novas tecnologias e tipos de tratamento possibilitem a configuração para diversas distâncias. Além disso, é pouco provável que a cirurgia melhore a visão para além da melhor acuidade que você atingia com as lentes de contato ou óculos antes do tratamento.

É importante ressaltar que grande parte das pessoas que fazem a cirurgia terão um grau residual, e em 90% dos casos ele é muito baixo, a ponto de não interferir nas suas atividades diárias. As expectativas devem ser realistas em relação à cirurgia refrativa com laser.

2) Quem é você. 

Uma vez que o seu desejo está de acordo com o que a cirurgia refrativa pode lhe entregar, é necessário entender quem é você e se as suas características pessoais permitem que seja feita a cirurgia com segurança:

• Ter mais de 21 anos

Com essa idade o grau normalmente já estabilizou e a córnea tem estrutura e resistência adequada para ser submetida à cirurgia. Não existe idade máxima para a indicação da cirurgia refrativa, mas muitas vezes pacientes mais velhos já apresentam algum grau de catarata e, nesses casos, a cirurgia mais indicada para ter independência de óculos é a cirurgia de catarata com lentes especiais, ou uma combinação das duas.

• Hobbies, trabalho, estilo de vida

Terão influência na definição do tipo de cirurgia. Se você pratica lutas ou artes marciais, por exemplo, esportes de contato físico que apresentam maior risco de trauma ocular, seu médico poderá decidir por uma técnica cirúrgica específica e mais segura para o seu caso.

• Condições associadas

Em linhas gerais, a cirurgia é contraindicada quando se tem alguma doença sistêmica não controlada (ex.; diabetes mellitus, alergias), doenças autoimunes (com algumas raras exceções) e durante a gestação/ lactação. Todas as comorbidades devem ser comunicadas ao cirurgião, que em conjunto com você irá ponderar os riscos e benefícios.

• Remédios em uso

Algumas medicações podem interferir na lubrificação ocular, importante fator de conforto e cicatrização da córnea no pós-operatório. Por exemplo, a isotretinoína é um dos principais exemplos e prefere-se indicar a cirurgia após término do seu uso.

3) Qual é o seu grau?

Os limites do grau dos óculos são importantíssimos na indicação da cirurgia refrativa. O FDA estabelece limites mais altos, porém a maioria dos médicos prefere operar com limites mais reduzidos, considerando a segurança da cirurgia e os melhores resultados.

Tipo de grauFDAPreferência na prática clínica da maioria dos médicos
Miopia-12.00-10.00
Hipermetropia+6.00+5.00
Astigmatismo-6.00-5.00

É importante lembrar que caso o seu grau seja maior que os limites acima, existem outras modalidades de cirurgia refrativa que são mais seguras em casos de graus extremos e podem ser conversadas com o seu oftalmologista.

4) Seu grau estabilizou?

Seu grau dos óculos ou lentes de contato deve estar mantido sem mudanças por pelo menos um ano. Esse período pode ser maior para determinados tipos de pacientes.

5) O seu olho é 100% saudável?

Quando você for à consulta oftalmológica para avaliação da cirurgia refrativa, o médico vai examinar cada detalhe do seu olho. Dados importantíssimos são obtidos com os exames de lâmpada de fenda, fundo de olho, tonometria, entre outros. Se algum desses exames identificar alterações sugestivas de alguma patologia, como olho seco, glaucoma, lesões na córnea, alterações na retina ou pressão intraocular elevada, o seu médico poderá contraindicar ou adiar a cirurgia até ter o tratamento adequado dessas condições.

6) Como está a sua córnea?

Talvez este seja um dos tópicos mais estudados, visto que a cirurgia refrativa com laser é realizada na córnea. Por isso, ela deve ter as características ideais para que possa ser submetida à cirurgia, com mínimos riscos de complicações. Necessariamente serão feitos os exames de topografia e tomografia corneana.

Através destes exames o médico avaliará se as curvaturas, espessura e morfologia estão dentro da normalidade. Estes dados são complexos e os limites variam de acordo com o grau que será corrigido. Por exemplo, para correção de altos graus de miopia, a córnea deve ser mais espessa do que para graus menores.

Nos casos em que alguns valores ultrapassem os limites da normalidade, pode ser necessário avaliação complementar da córnea com outros exames, como mapa epitelial e exames de biomecânica da córnea. No entanto, em alguns casos a córnea não apresenta as características dentro dos limites aceitos para cirurgia, e a mesma fica contraindicada.

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CONCLUSÃO

Dessa forma, pode-se perceber que a triagem é uma das etapas mais importantes para a cirurgia de correção de grau dos olhos, sendo essencial para prevenir diversas complicações como ectasias corneanas, piora das doenças oculares de base, descolamento de retina, entre outros, que podem levar inclusive à piora da visão. Além disso, a conversa com o médico oftalmologista é crucial para alinhar expectativas sobre o resultado cirúrgico e os cuidados pós-operatórios, que devem ser seguidos à risca.

Assim, com uma triagem oftalmológica cuidadosa, os riscos são minimizados e a cirurgia torna-se muito segura, com resultados ótimos e com alto grau de satisfação dos pacientes! Enxergar bem é viver bem, e a cirurgia para correção de grau possibilita uma melhor qualidade de vida duradoura para milhares de pessoas por ano!

Referências:

1. https://www.market-scope.com/pages/reports/refractive?page=1

2. Cirurgia Refrativa Marcony R. SANTHIAGO. ISBN 9788570066794.