Catarata Medicamentosa: Quais Medicamentos Podem Acelerar o Aparecimento da Catarata?

A opacidade cristaliniana é, segundo o projeto VISION 2020 da Organização Mundial da Saúde, a maior causa de cegueira reversível no mundo. Estima-se que a catarata seja a causa de cegueira de cerca de 15 milhões de adultos acima de 50 anos, além de ser a causa de visão subnormal de 85 milhões de pessoas. 

Juntos, catarata e erros refrativos são responsáveis por 50% da cegueira global, e 75% dos pacientes com visão subnormal.

A seguir, você confere as principais características da catarata medicamentosa.

Continue a leitura e tire suas dúvidas!

Opacificação do Cristalino

O processo de opacificação do cristalino tem diversas causas e fatores de risco. Com o aumento da estimativa de vida média no mundo e a explosão de pacientes em uso crônico de remédios, as cataratas induzidas por medicamentos ganham importância na prevalência mundial. 

Diversas medicações podem causar a opacificação da lente natural do olho, e incluir a busca ativa por essa causa específica pode ser vital para uma anamnese diferenciada na prática oftalmológica de qualquer especialista.

Corticoides

Os corticosteroides, se usados por muito tempo, podem ser causa de catarata, em especial o subtipo subcapsular posterior, que tende a causar baixa de visão desde os estágios iniciais. 

Seu desenvolvimento pode ocorrer em decorrência das diversas formas de administração (oral, tópica, inalatória, intravítrea e subconjuntival), sendo o aparecimento da opacidade diretamente relacionado à dose e ao tempo de tratamento. 

Assim, pacientes em uso crônico de corticoides pelos mais diversos motivos devem ser acompanhados periodicamente por oftalmologistas

Da mesma forma, pacientes oncológicos devem receber o mesmo cuidado, uma vez que a incidência de catarata após quimio e radioterapia não é rara, em especial nos cânceres oculares e da face, nos quais os tratamentos invariavelmente aceleram o estresse oxidativo do tecido cristaliniano.

Anticolinesterases

Medicações mióticas como as anticolinesterases tópicas causam vacúolos na cápsula anterior do cristalino e no epitélio, progredindo com opacidade cortical e nuclear se usadas cronicamente. 

No entanto, apesar de apresentarem forte associação com o desenvolvimento de catarata, essas são raramente vistas, em decorrência do abandono dos colírios de pilocarpina e ecotiofato para o controle de glaucoma. 

Amiodarona e Fenotiazinas

Pacientes em uso de amiodarona e fenotiazinas (como a clorpromazina) podem apresentar a famosa córnea verticillata, que consiste no depósito epitelial em forma de espiral, decorrente da penetração das medicações nos lisossomos da camada epitelial basal corneano, com ligação aos lipídeos, formando um complexo resistente à degradação pelas fosfolipases.

Como curiosidade, a palavra verticillata deriva do latim “verticillus”, que significa espiral. Todavia, uma alteração muito menos lembrada, também decorrente do uso dessas substâncias, é a catarata. 

Amiodarona

A amiodarona é conhecida por causar opacidades estreladas por deposição pigmentar no córtex anterior do cristalino, além de também raramente causar neuropatia óptica. 

Já as fenotiazinas formam depósitos amarelados no epitélio anterior, também em formato estrelado, causando catarata subcapsular anterior que raramente compromete a visão. 

Para além do risco aumentado de desenvolver catarata medicamentosa, o uso de clorpromazina, como também de outros alfabloqueadores, eleva o risco da síndrome da flacidez iriana, complicação intraoperatória importante.

Estatinas

É comum que pacientes cardíacos façam uso de estatinas, as quais foram associadas em estudos recentes ao aumento da velocidade de esclerose nuclear do cristalino, embora faltem evidências robustas na literatura, assim como acontece com o uso de tamoxifeno. 

O mesmo ocorre com a hidroxicloroquina, cujos efeitos colaterais foram amplamente estudados durante a pandemia, porém sem evidências de associação com a catarata.

Outras causas relacionadas ao desenvolvimento da catarata medicamentosa

Ademais, apesar de não serem medicações, variadas outras substâncias também estão relacionadas a maior risco de desenvolvimento de catarata. 

Como maior exemplo cita-se o tabagismo, que causa em geral catarata nuclear e subcapsular posterior, em decorrência do estresse oxidativo crônico. 

Além do tabaco, o álcool pode estar relacionado ao desenvolvimento de catarata em alguns estudos, embora haja controvérsias na literatura, sendo citado inclusive como protetor pelo efeito antioxidante relativo do uso abusivo.

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Conclusões

Assim, é importante atentar para a contribuição de certos medicamentos ao desenvolvimento da catarata, bem como do aumento do risco de possíveis complicações intra e pós operatórias em decorrência de seu uso. 

A anamnese completa e o conhecimento acerca dos detalhes fisiopatológicos da opacificação cristaliniana e de todo o entorno da cirurgia enriquecem o planejamento cirúrgico, sendo imprescindíveis na busca do melhor resultado para o paciente!